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Responsável por 25% de toda a riqueza produzida no país, São Paulo abriga 38% das cem maiores empresas privadas de capital nacional, 63% dos grupos internacionais instalados no Brasil, 17 dos 20 maiores bancos, além de 1,8 mil estabelecimentos de saúde, 12, 5 mil restaurantes, 400 hotéis, 15 mil bares, 240 mil lojas, 146 faculdades, 26 universidades e 34 mil indústrias. O resultado é um movimento frenético 24 horas por dia, que leva a estatísticas assustadoras como 864 mil transações de cartão de crédito por dia, a realização de um evento a cada seis minutos e o consumo diário de 1 milhão de pizzas.
Para movimentar essa engrenagem, nada menos do que 11 milhões de habitantes, espalhados em mais de 90 bairros, que a cada dia disputam, com maior dificuldade, um espaço nas caóticas ruas e avenidas da capital paulista. No emaranhado formado por 91 mil ruas e avenidas, com 17 mil quilômetros de extensão, os motoristas paulistanos perdem 27 dias por ano em congestionamentos, de acordo com levantamento feito pelo Movimento Nossa São Paulo e IBGE. O prejuízo pesa no humor, na saúde e no bolso de quem vive na cidade. Estudos realizados pela Fundação Getulio Vargas e pela Universidade Federal de São Paulo revelam que a busca de soluções para os problemas de mobilidade exigem investimentos de R$ 40 milhões ao ano e a poluição atmosférica consome R$ 17 bilhões só com o tratamento de doenças respiratórias.
Se, por um lado, a capital paulista é o celeiro das grandes oportunidades, por outro revela inúmeros desafios para o governo, as empresas e a própria sociedade em busca de um ambiente competitivo, porém ambientalmente sustentável e com qualidade de vida. Uma tarefa que tem tirado o sono de governantes e aguçado as ideias de estudiosos e urbanistas. E a preocupação não é privilégio dos paulistas. Segundo o relatório Cidades: Mobilidade, Habitação e Escala, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria, 12 cidades metropolitanas abrigam 45% da população brasileira, colecionando problemas como engarrafamentos, poluição, isolamento e falta de moradia. Ainda de acordo com o estudo, o bom ambiente urbano é tão determinante para as atividades econômicas no século XXI, como a proximidade à fonte energética e à matéria prima o foram para a indústria do século XIX.
"O desafio atual das grandes metrópoles tem sido desenvolver, diante do aumento das expectativas dos cidadãos e com uma oferta cada vez menor de recursos naturais e financeiros, soluções para problemas urbanos e globais de forma tão rápida quanto os criamos", diz Anthony Towsend, doutor em planejamento urbano e regional pelo MIT e diretor de pesquisa do Institute for the Future.
Em visita ao Recife, onde participou da 30ª Conferência Mundial de Parques Tecnológicos e Áreas de Inovação, organizado pela Iasp, Anprotec, Sebrae e Porto Digital, o especialista enfatizou que o Brasil tem uma das maiores populações urbanas do mundo, superior a 80%, percentual que a Índia e a China, por exemplo, só alcançarão daqui a 50 anos. Diante desse cenário, multiplicam-se as oportunidades para governo, empresas e a sociedade lançarem mão da tecnologia em prol da melhoria das cidades. Isto é, para a criação do que ele chama de cidades inteligentes - lugares em que a tecnologia da informação é utilizada para enfrentar os problemas urbanos.
Segundo Towsend, o governo é peça-chave nas cidades inteligentes, pois é quem determina o plano de investimentos e inovações e dita as regras segundo as quais as companhias devem atuar. "Em muitas regiões do mundo, os governos são obrigados a destinar entre 1% e 2% do orçamento de construção para a arte e edifícios públicos", afirma. "Se fizéssemos o mesmo para a tecnologia inteligente teríamos uma explosão de inovação de pequenas empresas que poderia gerar uma nova era de crescimento e melhoria de vida nas cidades."
A definição de cidade inteligente, contudo, difere de especialista para especialista. A ONU, por exemplo, aponta como "smart cities" aquelas que contemplam em maior escala o Índice de Prosperidade da Cidade, composto por cinco fatores: infraestrutura, produtividade econômica, qualidade de vida, inclusão social e sustentabilidade ambiental. No Brasil há exemplos pontuais de iniciativas que obedecem parte desses conceitos, como a introdução das ciclovias e corredores de ônibus, em São Paulo, e a integração de informações de mais de 30 agências públicas municipais nas áreas de meteorologia, tráfego, água, energia, segurança e saúde no Rio de Janeiro. A capacidade de prever uma catástrofe natural, por exemplo, permite ao poder público tomar decisões antecipadas. Embora isso ainda esteja longe de ocorrer da forma ideal.
Na visão de Anthony Towsend, o parque tecnológico do Porto Digital, instalado em Recife, é um bom exemplo de como as coisas devem ser conduzidas de modo a integrar a produção da tecnologia e inovação ao ambiente urbano. "Os parques tecnológicos têm de aspirar a ser mais do que apenas um conjunto de escritórios de empresas e trabalhadores dedicados a criar novas tecnologias", afirma. "Precisam se tornar laboratórios para a vida urbana inteligente - que associa a nova infraestrutura tecnológica a políticas inteligentes e melhores designs urbanos e arquiteturas".
Segundo o especialista, é preciso pensar nos parques como novos distritos especiais, onde as regras são diferentes, para que possamos experimentar e testar soluções rapidamente aplicáveis ao resto da cidade, da nação e do mundo. "Por causa dos desafios e da necessidade de inovar para superar o fato de estar distante da maior cidade do país é que a iniciativa recifense tem dado tanto resultado," afirma Towsend. "Em Recife há uma grande oportunidade de fazer algo diferente. É por isso que o Porto Digital obteve tanto sucesso e se transformou em um dos pilares da economia do Estado de Pernambuco."
Fonte: Valor Econômico (SP), 28 de outubro de 2013

Categoria: Cidade


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