A média da aferição realizada foi de 75 dB. O momento mais barulhento do dia foi durante a passeata de médicos e dentistas que protestavam contra os valores repassados pelos planos de saúde: 85 dB. O horário de maior movimento, entre 8h e 9h, geralmente é o horário de mais ruído, mas houve picos de até 90 decibéis, informou o engenheiro acústico e coordenador da Comissão de Acústica Ambiental da ProAcústica, Nicolas Isnard.
Depois disso, carros, ônibus, buzinas, helicópteros, britadeiras de obras próximas e transeuntes se encarregaram dos ruídos da região. Na calçada da obra, o decibelímetro chegou a marcar 85 decibéis. "O grande vilão do ruído urbano ainda é o transporte público - o nosso ainda está muito barulhento, ele deveria ser melhor avaliado para ser mais silencioso", disse o presidente da ProAcústica, Davi Akkerman. "Os carros da cidade passam por fiscalização de gases poluentes e de barulho, mas não é suficiente. Os veículos pesados como ônibus e caminhões não passam e eles são os maiores geradores de ruídos."
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o ruído é considerado um problema mundial de saúde pública e a segunda causa de poluição que mais afeta o planeta, atrás apenas da poluição do ar. Ainda segundo a OMS, cerca de 120 milhões de pessoas no mundo têm a audição afetada pelo ruído. Não existe um levantamento específico de dados como esses referentes ao Brasil ou a São Paulo porque, segundo os especialistas, é preciso primeiro fazer um mapeamento do barulho (ou cartografia sonora) do local para poder pensar em políticas de gestão de ruído. Akkerman contou que a única cidade do País que esboça alguma ação de controle desse problema é Fortaleza, no Ceará. Nas metrópoles da Europa, os ruídos são monitorados e fiscalizados. "Só existe política pública de controle do ruído fixo, como os causados por vizinhos ou obras, por exemplo. Para ruído urbano, como o de trânsito ou de aviação, não há nenhuma regulamentação." A única solução, para ele, é avaliar, mapear para poder monitorar e fiscalizar o ruído na cidade.
A professora de fonoaudiologia da USP e diretora da Academia Brasileira de Audiologia, Alessandra Samelli, explicou que o ruído causa um sobressalto no organismo, é um elemento de alerta. "A nossa primeira reação é preparação para fugir. Claro que nós não vamos fugir do ruído, mas aumenta o ritmo respiratório e o cardíaco, diminui a ação gastrointestinal e nossos músculos ficam enrijecidos. Com o prolongamento do barulho, essa reação do nosso corpo se mantém também e nós ficamos sob estresse constante", explicou a especialista. "Isso gera hipertensão arterial, respiração ofegante, tudo sem perceber. A longo prazo, isso pode causar até um infarto ou um AVC (acidente vascular cerebral). Morando em um lugar como esse (Av. Paulista), a pessoa fica mais irritada, e não descansa direito. Somado a esse sintoma cardiovascular e gastrointestinal isso vira uma bomba relógio."
Fonte: O Estado de S. Paulo, 25 de abril de 2012