Esses homens arrojados eram Jorge Lettry, com quem o Best Cars Web Site conversou especialmente para este artigo, que comandava na época o departamento de competições da Vemag, e o projetista Genaro "Rino" Malzoni, que mais tarde emprestaria seu sobrenome ao novo esportivo nacional. Juntaram-se a eles na empreitada Anísio Campos, piloto e designer, Luís Roberto Alves da Costa, Mílton Masteguin e Mário César "Marinho" de Camargo Filho, piloto da Vemag e possuidor de grande prestígio à época. A decisão recaiu sobre o chassi e a motorização DKW-Vemag, de dois tempos, três cilindros e tração dianteira. Este conjunto já havia mostrado seu valor nas pistas, com os DKW altamente modificados.
A história de nosso grã-turismo começou em 1964, quando Malzoni fez o primeiro protótipo para as pistas com uma carroceria em chapas de metal. Foi feito em sua fazenda de cana-de-açúcar em Matão, interior de São Paulo. O sucesso nas corridas não demorou. Ganhou cinco provas em 1965. Sua estréia foi no Grande Prêmio das Américas, em Interlagos, e obteve o primeiro lugar entre os protótipos.
Foi criada então a empresa Lumimari - nome formado pela junção de Luís, Mílton, Marinho e Rino - para dar inicio à produção em série. A carroceria, nitidamente inspirada na escola italiana, seria de plástico reforçado com fibra-de-vidro. O carro era pequeno, bonito e mais leve com o novo material. Rodas Mangels, com centro de aço e aro de liga leve, e limpadores em sentido contrário faziam diferenças. Seu primeiro nome era GT Malzoni.
Em 1966, no V Salão do Automóvel brasileiro, era exposta a primeira evolução do GT Malzoni, o Puma GT. Suas linhas eram nitidamente inspiradas no Ferrari 275 GT. Seu desenho coube ao piloto-estilista Anísio Campos. Não tinha mais a simplicidade e o despojamento de um carro de corridas: o acabamento era luxuoso. No mesmo ano a pequena empresa tomava parte do Grupo Executivo das Indústrias Mecânicas. A razão social foi mudada para Puma Veículos e Motores Ltda. Em 1966 foram produzidos 35 Pumas DKW, número que chegou a 170 no ano seguinte.
Mecânica Volkswagen
Em 1967, a indústria automobilística nacional dava uma reviravolta, começando a se modernizar graças à incorporação de várias indústrias por marcas maiores e com novos conceitos. A Vemag era absorvida pela Volkswagen. Nascia então um mito, um sonho para os brasileiros. Era um carro que fazia sucesso por onde passasse. Pequeno mas vistoso, de linhas modernas, simples e elegantes. Apesar da pequena produção, não chegava ao público a um preço alto demais.
Essa segunda geração do Puma teve a carroceria quase que inalterada até o final de sua produção. Era mais moderna e havia uma inspiração no desenho do superesportivo italiano Lamborghini Miura.
O novo Puma passava a utilizar chassi, suspensão e motor Volkswagen. O entreeixos foi reduzido para apenas 2,15 metros, o que lhe conferia grande agilidade nos trechos sinuosos. Sob o capô ficavam estepe, tanque de combustível e um reduzido espaço para pequenas bagagens. Era um carro para duas pessoas.
O novo Puma era mais rápido que seu antecessor, tanto em velocidade final quanto em aceleração, e mais rápido nas curvas. Em 1968 foram produzidos 151 esportivos e em 1969 a fabricação quase dobrou. No ano seguinte era exposto na Europa, numa feira em Sevilha, cidade famosa do sul da Espanha. Começava aí sua carreira internacional. No mesmo ano o motor passava a deslocar 1,6 litro e o modelo passava a se chamar Puma 1.600 GTE.
Em 1971 a fábrica colocava nas ruas a versão spyder, o 1600 GTS. Em 1975 era adotado o chassi da Brasília, tornando o "Puminha" mais largo.
A produção total dos esportivos elevava-se ano a ano, e em 1973 chegava à casa de 800 veículos. Em 1972 era exposto no salão do automóvel o Puma GTO, que mais tarde teria seu nome trocado para GTB. Usava o ótimo motor Chevrolet de 3,8 litros do Opala, com 125 cv (potência bruta).
Como o irmão menor, o "Pumão" era ideal para duas pessoas. O painel de instrumentos era bem completo e incluía conta-giros, voltímetro e termômetro do óleo. Vinha equipado com rodas exclusivas da Puma e pneus inéditos no mercado nacional, os Pirelli E70. Era um carro esporte bonito e imponente, que tinha fila de espera para compra. Mas seu desempenho não era muito superior aos do Opala, Dodge Dart e Charger da época - e estes eram mais baratos que ele.
Em 1974 a Puma passava a fazer parte da Anfavea. No ano seguinte os carros-chefes GTE e GTS passavam a utilizar o chassi da Brasília.
Em 1979 a fábrica lançava o GTB reestilizado, chamando-o de Série 2 ou S2. Era mais harmonioso, moderno e bonito que o modelo de 1972. Detalhe interessante eram os limpadores de pára-brisa, escondidos sob uma cobertura acima do capô.
Os problemas
O declínio da Puma começou quando um lote carros exportados para os EUA foi recusado e voltou para o Brasil: estavam fora das rígidas especificações exigidas pelo país, principalmente no que se refere à segurança. Isso maculou o nome da marca.
Em 1985, depois de uma carreira de sucesso, a Puma pedia concordata devido aos vários problemas enfrentados. A produção havia caído para 100 carros - por ano.
Os carros-esporte passaram a ser produzidos pela Alfa Metais Veículos, do Paraná. O GTB, ainda com motor Opala, passava em 1988 a se chamar AMV, as iniciais da empresa.
Em 1990, com a chegada dos importados no território nacional, a empresa fechava as portas definitivamente para a produção de automóveis. A morte de seu principal sócio, Nívio de Paula, num acidente automobilístico pouco depois, contribuiu para esse desenlace. Hoje a Alfa Metais produz o caminhão pequeno Puma 4T, projetado quando a fábrica ainda estava em São Paulo.
Fechava também a história de um mito esportivo nacional que sempre deixará saudades nos corações de milhões de pessoas de três gerações. O Best Cars Web Site deu sua contribuição para que se preserve a memória de nosso melhor carro-esporte, o Puma.
Fonte: Best Cars Web Site, dezembro de 2010