Estacionamentos de transferência podem ser uma importante solução para a redução de viagens urbanas e, conseqüentemente, a redução dos congestionamentos.
As alternativas tradicionais, no entanto, não vingam porque estão relacionadas com o transporte coletivo comum para os quais os usuários de automóveis estão pouco dispostos a se transferir, sejam os ônibus comuns, assim como o trem urbano ou o metrô. A principal razão é que esses estão lotadíssimos nas horas de pico.
O "park and ride" é um estacionamento onde o usuário do automóvel deixa o carro e segue por um meio coletivo. O "kiss and ride" é o local onde o familiar deixa o outro para seguir por um meio coletivo. Normalmente se imagina - com base nas condições antigas - a mulher dona-de-casa deixando o marido junto a uma estação de trem ou de metrô, para seguir pelo meio coletivo.
Lembra-me um famoso filme com Robert de Niro e Maryl Streep, "Falling in Love", aqui traduzido como "Amor à Primeira Vista", em que os dois se encontram e se apaixonam no trem.
O filme é de 1984 e de lá para cá muita coisa mudou. Há cada vez mais executivas como a protagonizada por Maryl Streep do que a dona-de-casa que deixa o marido na estação do trem.
Mas há outras possibilidades para o "kiss and ride". Como o transporte escolar. Esse é uma solução, conduzindo mais pessoas por veículo do que do automóvel da mãe ou do pai levando as crianças. Mas, do ponto de vista logístico, é uma solução ineficiente, com uma ampliação de viagens, casa a casa, para pegar ou deixar as crianças.
O "kiss and ride" é uma alternativa para os pais deixarem as crianças num ponto de concentração/distribuição, de onde seguem para a escola numa van, ou mesmo num ônibus. Os veículos podem fazer viagens mais curtas, o que implica a necessidade menor de frota. Conseqüentemente de custo, pois essa frota fica ociosa uma boa parte do dia. Em compensação, há o custo adicional do terreno para a transferência. Que pode ser um estacionamento, que com a sua utilização para a guarda de carros pode reduzir o custo de utilização para o "kiss and ride".
Esse estacionamento pode funcionar também como "park and ride", ou seja, para que as pessoas deixem o carro e possam seguir por um meio coletivo. Que poderá ser uma van, um "ônibus do tipo fretado" ou mesmo uma carona.
O estacionamento para o "kiss and ride" e para o "park and ride" não é um local apenas para guarda de veículos.
Precisa de áreas para os automóveis na espera do transporte coletivo. Com os motoristas dentro do carro, ou com áreas para estacionamento e salas de espera. Que poderão contar com serviços, desde os mais simples, como cadeiras ou sofás, cafezinho e água, até lanchonetes, caixas automáticos etc.
Essas áreas de espera servem também para os que usam o sistema "park and ride", na espera do coletivo.
Os veículos do transporte coletivo também precisam de área para estacionamento.
E se o estacionamento atender aos escolares é preciso uma área específica para a espera deles, com controles individualizados.
Na prática, passa se do conceito de estacionamento para o de "centro logístico de pessoas".
Como um centro logístico de pessoas a questão crítica é onde localizá-los dentro da melhor racionalidade logística.
Há dois critérios básicos de polarização:
* o primeiro é a polarização pelo destino final, que por estar em área de maior concentração de atividades e trânsito recomendaria um centro no seu anel periférico para a concentração/distribuição de pessoas. Com isso evitaria o congestionamento nas vias internas;
* o segundo é a polarização pela origem, com a concentração/distribuição nesses pólos e viagem aos locais de destino pelo meio coletivo.
A partir desses critérios básicos podem-se identificar, dentro da cidade de São Paulo, os melhores locais para esses Centros Logísticos de Pessoas.
*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.