Os locais de trabalho são determinados pelos empregadores e os empregados com melhor remuneração se acostumaram a ir de carro de casa ao trabalho e estacioná-lo perto do local de trabalho. Com o Plano Diretor e outras ações o prefeito de São Paulo quer promover mudança radical dessa cultura.
Quer, em primeiro lugar, que os trabalhadores morem próximo ao trabalho, reduzindo os trajetos. Com essa redução, eles poderiam ir a pé ou de bicicleta para o trabalho, dispensando o uso do carro.
Como o poder de decisão de localização dos empregos é do patrão, a opção do empregado é mudar-se para a proximidade do local de trabalho.
Além da questão econômica de encontrar um imóvel próximo ao local de trabalho a custos compatíveis com a sua renda, há vários outros fatores que afetam a decisão de escolha do local de moradia. Alguns de caráter sentimental, como a afeição ao bairro, a proximidade de familiares e de amigos ou amigas.
Outros fatores influem na escolha, como o trabalho do casal e não apenas de um dos seus membros. E eles nem sempre trabalham no mesmo local ou na mesma região. Um pode ficar próximo e outro não.
Quando a família cresce, se for de classe média, quer colocar o filho numa escola privada, preferentemente em uma determinada escola. E para isso precisam do carro para levá-lo ou ir buscar.
Quando ele cresce quer ir para a faculdade. Se for de renda alta, quer ir para uma universidade pública, durante o dia, de bicicleta. Mas cada vez mais a demanda é por faculdades privadas, com o estudante trabalhando durante o dia e estudando à noite.
Morar perto do trabalho e da faculdade nem sempre é compatível.
A melhor solução está no metrô ou trem metropolitano e, complementarmente, o ônibus em corredor.
As faculdades privadas já estão escolhendo, preferencialmente, o local dos seus estabelecimentos perto de uma estação metroviária. E a própria Cia. do Metrô está construindo uma linha para atender a diversas faculdades.
Por outro lado, as faculdades tenderão a aderir à moda da bicicleta, criando espaços para o estacionamento das magrelas e gerando facilidades como postos de locação de bicicletas na sua proximidade.
Estará se formando um nova geração, que dispensará o carro e, consequentemente, reduzirá a demanda por vagas nas regiões de destino.
Será a formação de uma nova cultura ou apenas uma fase da vida? Esses jovens criarão a cultura dos "sem carro" ou serão apenas os "ainda sem carro"?
Eles poderão formar uma nova cultura, porém, será que quando eles se tornarem adultos representarão uma parcela significativa da população ou serão uma minoria diante do acelerado processo de envelhecimento da população? As gerações acima dos 40 serão de "sem carro"?
A tendência é ver o problema pelos segmentos das classes média e alta, mas o principal fator de agravamento dos congestionamentos é a emergência da classe média, que sai do transporte coletivo para o carro.
E esses representam uma parcela da população maior do que os tradicionais com carro.
Mas será que esses novos "com carro" terão recursos para pagar os estacionamentos?
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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