Por pressão de montadoras e de setores da Petrobrás, a resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) que determinava a distribuição de um diesel menos nocivo a partir de janeiro de 2009 não foi cumprida. O S50, com 50 partes de enxofre por milhão de partículas (ppm), só chegou aos postos em 2012, após um acordo jurídico. Agora, o S50 está sendo substituído pelo S10, com 10 ppm.
O cálculo do impacto do adiamento havia sido feito em 2008 e foi refinado para o artigo recém-publicado. "Fomos conservadores na projeção", disse o engenheiro Paulo Afonso de André, que assina o estudo com mais três pesquisadores. O trabalho engloba as seis principais regiões metropolitanas: Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.
"É um passivo que vai demorar até 2040 para ser zerado, porque a renovação da frota é muito baixa", afirmou André, referindo-se aos veículos a diesel vendidos entre 2009 e dezembro de 2011, com motores com tecnologia antiga e alta emissão de poluentes.
"Nunca se vendeu tanto caminhão sem catalisador quanto no período do atraso. Com isso, pode-se usar qualquer tipo de diesel. Vamos ter esses dinossauros rodando por 30 ou 40 anos", disse Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental e também autor do artigo.
Veículos antigos
André criticou o fato de não haver obrigação para que veículos antigos também usem o novo diesel. "Estudos mostram que um carro velho com combustível novo chega a poluir 50% menos. Mas a política pública não considerou isso." Segundo Saldiva, a poluição atmosférica causa doenças que matam cerca de 4 mil pessoas por ano em São Paulo. "O diesel é responsável por 40% disso: são 1,6 mil mortes por ano a mais em São Paulo. Está no mesmo nível de evidência que o tabaco e o amianto em casos de câncer." Das 14 mil mortes associadas ao não atendimento da resolução em 2009, 7,2 mil devem ocorrer na Grande São Paulo.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 26 de janeiro de 2013