Enquanto o trânsito não anda, 30% dos paulistanos ouvem notícia, 27% ouvem música, 16% estudam e 11% trabalham. Um em cada dez apenas observa o trânsito, indica a pesquisa.
"Um dos entrevistados disse que fez o ensino médio no carro: ouvia as aulas do telecurso no rádio e depois fazia as provas", diz Paulo Resende, um dos autores da pesquisa.
Mais do que curiosidades, o levantamento revelou, para o pesquisador, um inquietante conformismo com o trânsito. "Ouvi pessoas que se diziam satisfeitas ao constatarem que tinham no carro um tempo livre para fazerem outras coisas, enquanto estavam retidas. Elas não percebem que perdem esse tempo, por mais bem aproveitado que seja."
Sem falar no isolamento social. As pessoas também evitam sair, ficando mais tempo em casa, deixando, voluntariamente, de ter convívio com outras pessoas. "O trânsito não é só perda financeira e estresse. Ele também deteriora o tecido social."
Outro ponto preocupante do conformismo, segundo o pesquisador, é o fato de a população se indignar cada vez menos com o caos no trânsito, tomando-o como parte da rotina e, com isso, arrefecer nas cobranças ao setor público por políticas que melhorem o trânsito.
A pesquisa foi repetida no Rio, em Belo Horizonte e Porto Alegre. Das quatro cidades, São Paulo registra o maior grau de conformismo: 61%. O Rio não fica muito atrás: 58%. Em Belo Horizonte estão os menos conformados: 47%, ante 42% em Porto Alegre e 35% na capital de São Paulo.
Fonte: Folha de S. Paulo, 7 de fevereiro de 2010