Quando são reduzidas as fontes de nutrientes desta bactéria, ela passa a absorver o CO2 e criar compostos de polímero, um "bioplástico" com características parecidas com o plástico do petróleo. Ao manipular o DNA do micro-organismo, os pesquisadores conseguiram fazer com que ele criasse isobutanol em vez do "bioplástico".
"Um dos motivos para estudar esse combustível é que é compatível com a gasolina. Ele pode ser usado em motores de carro, inclusive já foram feitos testes", diz Cláudia. Se a pesquisa for bem-sucedida, no futuro a estrutura montada para o uso de gasolina (dutos, bombas, postos de combustível) precisaria de poucas adaptações para receber o álcool, devido à semelhança entre os combustíveis, pondera a pesquisadora.
O isobutanol já foi usado experimentalmente em corridas de automóveis e até em testes com aviões, realizados pela Força Aérea dos EUA em julho deste ano. "Temos que achar outras opções do que só queimar carvão, gasolina e petróleo", avalia a cientista, enfatizando a poluição gerada pela queima destes combustíveis. Para ela, um dos motivos para estudar o álcool é que a demanda por biocombustível no mundo está crescendo rapidamente nos últimos anos.
A cientista é formada em engenharia agronômica pela Universidade de São Paulo (USP). Para ela, há ganhos ecológicos com o isobutanol. Isso não significa que ele sozinho será a solução no curto prazo para todos os problemas de poluição. "O objetivo principal do biocombustível é ser reciclado, é não liberar poluição. É uma reciclagem de carbono, muito mais eficiente do que um combustível fóssil", disse ela.
Tutora
Cláudia atua como tutora de outra pesquisadora: a estudante de biotecnologia Amanda Bernardi, de 22 anos. A jovem é a primeira bolsista do programa Ciência sem Fronteiras, lançado pelo governo federal, no MIT.
Amanda, que estuda na Universidade Federal de Alfenas (MG), trabalha no estudo da tolerância da bactéria Ralstonia ao isobutanol - atualmente os cientistas estão aperfeiçoando o projeto para fazer o micróbio modificado geneticamente sobreviver ao álcool que ele mesmo produz.
"É um projeto fantástico. Ao mesmo tempo em que pode ser capaz de usar o CO2 produzido pelas indústrias, cria um combustível limpo", afirma a aluna, questionada do que acha da pesquisa. "Isso motiva a gente, me atrai muito. A meu ver pode revolucionar toda a parte de combustíveis."
Fonte: Globo Natureza, 22 de setembro de 2012