Parking News

"Lotado", diz a placa na porta da garagem. É o aviso ao motorista que roda atrás de uma vaga na rua Peixoto Gomide, nos Jardins, zona oeste de São Paulo, às 12h30 de uma quarta-feira. Se ao volante o paulistano já desistiu de disputar um espacinho na rua, agora ele enfrenta um baita sufoco, mesmo tendo que desembolsar até R$ 20/hora, uma das cifras mais altas cobradas na cidade, para estacionar. A corrida em busca da vaga faz todo o sentido diante do mais novo recorde da cidade. Desde a semana passada, 7 milhões de veículos se enfrentam nos congestionamentos que infernizam a vida dos paulistanos. A reportagem é da Revista São Paulo.
Com a marca histórica, a tortura começa nos engarrafamentos e termina de forma não menos irritante: nas garagens abarrotadas. Se as poucas vagas de Zona Azul são disputadas, nos estacionamentos privados a coisa não é diferente.
Os espaços são cada vez mais raros em áreas nobres e no centro da cidade, conforme levantamento da São Paulo feito durante os últimos 20 dias em 50 estacionamentos espalhados pelas cinco regiões da metrópole. Os preços das vagas sobem sem parar.
E, prepare-se, vão ficar mais altos. Parece absurda a ideia de que os motoristas não tenham mais onde parar quando um mercado gigantesco de estacionamentos não para de crescer. Eles são cerca de 10 mil, concentrados principalmente nas áreas mais movimentadas, segundo o Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado de São Paulo (SINDEPARK).
É como se dois estacionamentos fossem inaugurados diariamente em São Paulo nos últimos seis anos - em 2005, eram 6.000.
Fila de espera
Muito? Nada disso. Com tanto carro, vai ficar ainda mais difícil ter onde guardar os veículos, já que, nas áreas de maior carência, não há terrenos para novas garagens. Em regiões como o Itaim Bibi, o Brooklin e o centro, o mercado de estacionamentos para mensalistas, por exemplo, está saturado. Nesses locais, há até lista de espera. "Não temos vagas", "só no mês que vem". As frases são de manobristas que correm de lá para cá acelerando os carros que não param de entrar e sair dos estacionamentos da avenida Brigadeiro Faria Lima, área com casas de alto padrão e onde fica um ícone do luxo, o shopping Iguatemi.
Para ser mensalista ali tem que colocar o nome numa lista de espera. "Já são 28 na fila", conta o manobrista da Multipark, numa das garagens da Faria Lima, que pediu para não ser identificado. Funcionários de bancos, agências de publicidade e escritórios de advocacia do entorno pagam até R$ 450 para garantir a vaga mensal.
Um encarregado da Estapar contou que um empresário apareceu por lá e disse que pagaria R$ 500 se conseguisse dez vagas. A proposta foi recusada.
"Fiquei seis meses esperando uma vaga (de mensalista) no estacionamento do prédio onde trabalho. Agora, consegui. No meu primeiro dia aqui, tive que pagar R$ 60", explica a relações públicas Juliana Censi, que trabalha num prédio na Faria Lima.
O valor cobrado em estacionamentos subiu 14% no ano passado, contra 6,2% da inflação acumulada no mesmo período. Em fevereiro, houve alta de 2% no preço, diz o IBGE. "E vai ficar mais caro", diz Helio Cerqueira Jr., presidente da Estapar, maior rede da América Latina.
Engolidos pelo setor imobiliário
Para Helio, foram as décadas sem políticas públicas para estacionamentos que causaram o total descontrole do setor em São Paulo.
"Isso é uma questão de demanda maior do que a oferta. É a regra do mercado", explica. "Ele (o dono de estacionamento) paga caro para ter o espaço, pois percebe que a demanda é superior e, com isso, pode conseguir bons preços também", diz. Em lugares onde as vagas são raridade, parar por uma hora pode custar R$20, como em estacionamentos nas imediações das ruas Oscar Freire e Estados Unidos, nos Jardins (zona oeste). Naquela região, a "diária" (12 horas) sai por R$ 40.
Quando o assunto é mensalidade, um estacionamento da região central supera a média estabelecida pelas grandes redes que atuam na Faria Lima. O do Jockey Club de São Paulo, cuja sede social fica na rua Boa Vista, no centro, oferece vagas mensais por R$ 568 para quem não é sócio.
Para o presidente da Estapar, o mercado imobiliário engole os estacionamentos. "Muitos são abertos, mas não podemos esquecer dos que fecham", diz. Não se sabe ao certo quantos deles fecharam. "Há estacionamentos que funcionam por três meses. Dali a pouco, uma torre sobe no lugar."
Jaime Waisman, engenheiro e consultor em transportes, vê na redução de áreas de Zona Azul outro agravante. "A prefeitura diminui o espaço de vagas nas ruas para melhorar o fluxo, porque a frota cresce sem parar", diz.
Na falta de vagas na rua, empreendimentos imobiliários são lançados com vagas a mais na garagem", acrescenta.
Garagem subterrânea
Automatizadas, verticais, debaixo da terra, já se pensou de tudo para resolver o problema. Marcos Cintra, secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, estima que a cidade precisa de 70 garagens. É a conta feita em 2009 pelo então secretário de Transportes, Alexandre de Moraes, que, à época, anunciou um plano para construir estacionamentos automatizados na cidade. Ficou só na intenção.
Agora, Cintra aposta que até o fim de junho será aberta a licitação para a construção de três garagens subterrâneas, que vão ter entre 200 e 400 vagas cada uma, no centro, sob a praça João Mendes, o Pateo do Collegio e o Mercado Municipal. "Até o fim do ano, teremos um estudo para a licitação de outras sete garagens", afirma. Com anos de atraso, a cidade busca modelos que resolveram o problema mundo afora. Madri e Paris adotaram as subterrâneas, nas quais o governo dá a área, e a iniciativa privada opera. A primeira tentativa de implementá-las em São Paulo ocorreu em 1999.
Desde então, as duas únicas que operam por meio de concessão a empresas do ramo são as garagens Trianon e Clínicas, construídas para suprir a demanda dos Jardins e de Pinheiros.
Não foi suficiente. No entorno da Trianon, na alameda Santos, o número de garagens triplicou desde então. A prefeitura não fez valer o contrato que dizia que novos estacionamentos não poderiam surgir numa área de 500 metros da garagem", explica Celso Moscardi, representante do Consórcio Trianon. Segundo ele, o número de estacionamentos nas imediações saltou de 30 para 90 de lá para cá.
A expansão segue a trilha do boom imobiliário. Mooca (zona leste), Interlagos (sul) e Alto de Pinheiros (oeste) estão na mira do setor. A lógica é assim: onde sobe um prédio, uma nova garagem com manobrista aparece.
Fonte: Revista São Paulo (Folha de S. Paulo), 10 de abril de 2011

Nota da Estapar:
A Estapar esclarece que a reportagem equivocou-se quanto ao cargo de Helio Cerqueira Jr. Ele é presidente do Conselho de Administração e não presidente da empresa, como foi publicado.

Categoria: Mercado


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