Basta dar uma volta para flagrar oficinas e ambulantes nas calçadas, vendedores entre os carros; pedestres obrigados a caminhar no meio da rua; carros estacionados debaixo de placas que indicam proibição; caminhões de carga impedindo o fluxo; faixas de pedestres tomadas por carros, camelôs e, ainda, o acesso às paradas de ônibus impedido pelo comércio.
Especialistas acreditam que o trânsito chegou ao caos devido à falta de planejamento urbano e de fiscalização efetiva. "Na época que o Centro foi crescendo não tinha legislação e foi ficando esquecido. Hoje, as leis não são obedecidas", critica o promotor de Justiça Gilvan de Abreu, do Núcleo de Trânsito do Ministério Público (MPCE). Assim como ele, o arquiteto e urbanista Edilson Aragão, da Universidade de Fortaleza (Unifor), diz que o desrespeito e o não ordenamento tornam os pedestres os mais afetados.
Segundo ele, que ainda é diretor da Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor), um dos maiores problemas é a ausência de estacionamentos. Como lembra, o Plano Diretor antigo e o atual não incentivam a existência dos espaços. Assim, a população constrói estacionamento irregular e os condutores estacionam em locais proibidos. Conforme Aragão, a situação do bairro é reflexo do trânsito da cidade.
Como argumenta, o sistema de mobilidade é injusto com os usuários. Conforme pesquisa do Metrofor, 40% se deslocam a pé e 26% possuem carros, sendo, em contraposição, prioridade. "O sistema deve ser proporcional". Aragão e Abreu indicam que a solução só viria com fiscalização mais efetiva. Para Abreu, o desrespeito no trânsito acontece porque os condutores não acreditam nas consequências. "O trânsito seguro se faz com planejamento, boa vontade, determinação e fiscalização eficiente. Para fiscalizar, temos que ter pessoal e não temos. Como se faz um concurso e não se nomeia os aprovados? Temos que colocar gente na rua."
Para Aragão, além da fiscalização, outras medidas podem ser tomadas. Segundo ele, há edificações que podem ser demolidas. "Com a demolição, pode-se abrir novas possibilidades. O espaço pode ser usado para estacionamentos, comércio de ambulantes etc. É tirar para dar espaço", orienta.
Fonte: Diário do Nordeste (Fortaleza-CE), 15 de março de 2010