As brigas por vaga seriam o terceiro fator de conflitos nos condomínios. Reportagem mostrada repetidamente pelo noticiário dá conta de um abalroamento proposital de um condômino no carro do seu vizinho que o havia deixado mal posicionado, em cima da faixa, dificultando as manobras do abalroador.
O que acontecerá nos condomínios com a redução de vagas prevista na nova lei do Plano Diretor? As pessoas deixarão de ter o carro, buscarão apartamentos em condomínios onde há maior disponibilidade de vagas ou aumentarão os conflitos pela escolha das vagas ou pelo seu uso?
As restrições se baseiam em um equívoco: o de que o aumento da frota eleva os congestionamentos. Aumento da frota não significa, necessariamente, maior circulação de veículos nas ruas.
Não adianta alimentar a ilusão de que, em curto e médio prazos, haverá redução da frota ou uma redução da velocidade do aumento.
A indústria automobilística é ainda um dos mais importantes pilares da economia mundial e qualquer reestruturação da composição da produção só ocorrerá - se ocorrer - em longo prazo, com o desenvolvimento de novas alternativas de produção e de empregos.
No Brasil, o Governo Federal mantém os benefícios ao setor, para sustentar o nível de empregos, já em queda. A indústria automobilística precisa produzir e vender mais carros. As frotas irão aumentar em todas as metrópoles brasileiras.
As pessoas querem ter um carro. Hoje, para muitos, é mais importante do que ter a casa própria. Mas ter a posse do carro não significa que vá usá-lo cotidianamente.
Cada vez mais pessoas - com menor renda - têm acesso ao carro, em função das condições de financiamento, mas não o usam todos os dias para o seu trajeto casa-trabalho-casa.
A principal razão é a dificuldade de estacionar, sem custos, na proximidade do seu destino, ou o elevado custo de estacionar em locais pagos.
Essas condições afetam também a classe média, que busca morar mais próximo dos seus locais de trabalho, em áreas de ocupação mais densa, o que significa que terão maior dificuldade de encontrar uma vaga na via pública. Precisarão ter vagas dentro do seu condomínio, onde a oferta também será menor, diante da nova regulamentação definida no Plano Diretor.
A sua alternativa será buscar áreas menos densas, onde possa ter mais alternativas de deixar o seu carro ou um dos seus carros na via pública.
Esse comportamento irá de encontro (ou seja, contra) aos objetivos do Plano Diretor, que é adensar determinadas áreas da cidade, os eixos de transformação.
Os moradores nessas áreas tenderão a usar mais o transporte coletivo para os seus deslocamentos cotidianos, mas não dispensarão a posse de um ou mais carros. Para isso precisam de vagas para deixar o seu carro parado enquanto trabalham. Mas querem usá-lo para as outras atividades urbanas, seja durante a semana, fora do horário comercial, nos finais de semana ou nas férias. Poucos serão os que dispensarão inteiramente o carro.
Para reduzir o volume de carros em circulação a solução não é restringir vagas, mas aumentar substancialmente o número de vagas privadas.
"Se o aumento da frota é inevitável, relaxe... e deixe o carro na garagem."
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.