Parking News

Jorge Hori *

Com o aumento dos congestionamentos há uma tendência de buscar logo um vilão e esse parece estar à mostra, bem visível: é o carro.
Os congestionamentos ocorrem porque tem muito carro na rua. Esse é o responsável.
ERRADO.
Carro não anda sozinho na rua. Não tem autonomia, apesar de chamado de "auto-móvel". Carro não tem responsabilidade. Não é coisa viva. Carro só anda na rua porque está sendo dirigido por um motorista. Esse é o responsável.
Quando se foca o carro, apontam-se como responsáveis a indústria automobilística, que produz milhares de carros, ou o governo, que facilita o financiamento ou mantém o preço dos combustíveis baixo. Eles não são os responsáveis principais.
Focar o problema no carro é uma forma de escapismo às responsabilidades pessoais.
Colocando as coisas no devido lugar, sem eufemismos ou assemelhações: os congestionamentos ocorrem porque tem muitos MOTORISTAS dirigindo o seu carro nas ruas.
O problema é humano. Decorre dos comportamentos humanos. Do seu, do meu, dos outros motoristas. Sem a mudança desses, os congestionamentos só aumentarão em São Paulo.
Uma constatação evidente é que há muitos carros circulando (ou esperando nos congestionamentos) apenas com o motorista. Por um cálculo teórico, se todos os carros andassem com ao menos duas pessoas, as viagens poderiam ser divididas pela metade. Porque a tendência é que cada pessoa "de maior" da família possua um carro.
Uma solução seria a carona ou o "transporte solidário". Por que uma solução tão evidente, tão objetiva não ocorre?
Porque esbarra no comportamento humano. Na resistência pela liberdade, pela autonomia.
Parafraseando um antigo lema político que deveria ser relembrado - "o preço da liberdade é a eterna vigilância" -, diríamos que "o preço da liberdade é ficar parado no congestionamento".
Para aumentar o uso da carona não basta desenvolver um comportamento de solidariedade. O mais importante é o comportamento logístico. O desenvolvimento de uma cultura logística, antecipada pelo planejamento logístico.
Os motoristas, em geral, não planejam a sua logística.
Quem planeja procura escolher previamente a melhor hora para sair, o percurso a fazer, o local para estacionar etc.
A ação é sair quando der e seja o que "Deus quiser". Se o trânsito estiver ruim, apela-se para o celular avisando que vai atrasar, porque está preso num congestionamento.
A carona requer planejamento. E seu cumprimento com disciplina. Tolhe a liberdade individual.
Vou fazer aqui duas sugestões, uma já colocada anteriormente, que é a dos pontos de encontro. A outra, válida para empresas com grande volume de empregados num mesmo local: "venha de táxi, volte de carona".
A empresa cria um mecanismo para incentivar o retorno do trabalho de carona. Com uma unidade na área de recursos humanos que identifica as proximidades de moradia ou de roteiro, facilitando o retorno de carona. Como saem do mesmo local, em horários próximos, a conjugação da viagem pode ser maior.
O problema está na conjugação da chegada. O que poderá ser desenvolvido com a prática do retorno.
Então, para incentivar o retorno coletivo a empresa deve propor um subsídio para os gastos com táxi. O empregado poderá vir de táxi e a empresa reembolsa, digamos, 50%. Essa proporção deve ser definida em função do custo médio do gasto com a viagem com carro próprio, incluindo o custo do estacionamento. O custo efetivo da empresa é menor que o subsídio, pois pode descontar do imposto de renda a pagar.
Essa vantagem só será concedida ao empregado que se inscrever e utilizar a carona de volta. Com o tempo, o subsídio do táxi de vinda poderá ser transferido para a concessão de tíquetes combustíveis para os caronistas e caroneiros.

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

Categoria: Fique por Dentro


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