Parking News

Uma frota superior a 5 milhões de carros circula pelas ruas da capital paulista, que ganha 800 novos veículos por dia. O resultado não poderia ser diferente - trânsito caótico, engarrafamentos, degradação da qualidade de vida da população decorrente do tempo gasto em deslocamentos e superlotação das cidades. E o pior, este não é um cenário exclusivo das grandes metrópoles. Hoje, todas as capitais e alguns municípios do interior já se preocupam em implantar políticas e ações para melhoria do trânsito urbano.
Mas, se por um lado o cenário parece desolador, por outro surge como uma oportunidade para quem quer empreender na área de mobilidade urbana, investindo em estacionamentos, um ramo que cresce a uma média de 20% ao ano.
Na cidade de São Paulo há pouco mais de 500 mil vagas de estacionamentos particulares e 37 mil públicas. Falta espaço para parar. A média é de 14 veículos para cada vaga oficial de estacionamento na capital.
"A expansão deste tipo de negócio é proporcional ao crescimento da frota dos países", afirma Geraldo Antunes, responsável pela divisão parking da Dimep, especializada em soluções de controle de entrada. Levantamento feio pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) revela que entre 2003 e 2013 houve um aumento de 123% na compra de veículos no Brasil, enquanto no mesmo período a população cresceu apenas 11%.
Pagar para estacionar hoje virou necessidade, não mais opção. É graças à alta demanda que os preços dos estacionamentos na cidade de São Paulo subiram até 45% desde 2010, enquanto a inflação do período não passou de 13%. São Paulo tem o maior valor médio cobrado pela primeira hora de estacionamento no país, R$ 25, enquanto o Rio de Janeiro lidera o maior custo mensal, R$ 620.
"Com tanta demanda, um estacionamento na cidade de São Paulo, por exemplo, preenche diariamente no mínimo três vezes a sua lotação", afirma Antunes. "Se está instalado próximo a mercados ou em áreas de comércio intenso essa rotatividade chega a oito vezes." É a grande procura pelo serviço e a relativa facilidade de se iniciar o negócio, somada a boas margens, que atraem a cada dia novos empreendedores para o setor. A concorrência, contudo, é acirrada. Só a Estapar, apontada como uma das maiores redes de estacionamentos do país, responde por 900 estacionamentos, opera mais de 250 mil vagas em 72 municípios e recebe cerca de 10 milhões de veículos por mês.
A fim de driblar a concorrência e ganhar uma fatia substanciosa do mercado, a Unipare, fundada em 1995, decidiu há pouco mais de uma década explorar bolsões de estacionamento. Ou seja, áreas muito grandes, com cerca de 2.000 vagas, próximas a terminais rodoviários e aeroportos. O primeiro foi junto ao Terminal Rodoviário do Tietê e o mais recente no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. No total são cinco unidades. "É um modelo de negócios para grandes cidades", afirma Giuliano Saade, diretor de marketing e operação da Unipare.
"Praticamos um preço bem abaixo dos estacionamentos tradicionais e ganhamos na escala", afirma o diretor.
No Terminal Rodoviário do Tietê, por exemplo, cobra-se R$ 10 por 12 horas de estacionamento. O faturamento em 2013 foi de R$ 14 milhões e deverá crescer este ano, já que o movimento no Aeroporto de Cumbica deverá aumentar nos meses da Copa do Mundo.
De acordo com o executivo, a maior dificuldade do modelo de negócio da Unipare é encontrar grandes áreas a preços que não sejam estratosféricos. "O mercado imobiliário explodiu em custos. Quando encontramos um terreno médio, muitas vezes, dispensamos porque o custo do aluguel exigiria o dobro do faturamento previsto para a unidade", destaca.
Distante 97 quilômetros da capital paulista, o empresário Leonardo Vieira Oliveira não esconde que a supervalorização dos aluguéis em São José dos Campos é um dos grandes desafios do negócio somada à alta rotatividade da mão de obra.
Segundo ele, falta de espaço e imóveis destinados ao segmento são um obstáculo para o negócio, pois por característica da operação os pontos mais interessantes são os que têm boa localização, cercados de áreas de influência, gerando alta rotatividade. "Justamente as áreas mais disputadas e valorizadas", declara.
Há 12 anos no mercado, a rede conta com 12 estacionamentos em operação nas cidades de São José dos Campos, Santo André e Mauá, todos com perfil corporativo, focados em prédios comerciais, hotéis e hospitais.
Marcar presença em cidades menores, principalmente no interior paulista, é um movimento que não apenas as redes independentes têm procurado fazer, mas também as líderes do setor, que optaram pelo sistema de franquia para ganhar envergadura. "Enxergamos estas cidades onde indústrias, shopping centers e condomínios se desenvolvem como boas oportunidades para expansão das franquias", afirma Ricardo Camargo, diretor executivo da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Para facilitar a operação, a entidade tem trabalhado junto aos supermercados, que seguem para os mesmos destinos, para abrir possibilidade de administração dos estacionamentos às franquias.
Entre as cinco maiores redes de franquias de estacionamento, apenas uma, a Multipark, é afiliada à ABF. São 173 unidades, distribuídas em 11 estados e com 40 franqueados.
Em 2013, a rede ocupou o quinto lugar no ranking de serviços automotivos da ABF em faturamento, respondendo por uma parcela significativa dos R$ 450 milhões movimentados pela categoria.
Manobristas precisam ser bem treinados
Integrar um mercado com média de crescimento de 20% ao ano tem feito parte dos planos de um número cada vez maior de brasileiros. Embora de um modo geral a gestão de um estacionamento seja muito simples, a concorrência é acirrada e os custos com a locação de imóveis em áreas nobres para o negócio estão cada vez mais estratosféricos. Para Geraldo Antunes, responsável pela divisão de parking da Dimep, o que torna o mercado atrativo é a possibilidade de retorno do investimento e a boa margem de lucro.
Mas é preciso evitar ilusões. "Quando um empresário decide entrar no ramo, no entanto, precisa tomar alguns cuidados que garantirão que as promessas do mercado se cumpram", afirma o executivo. "O cliente, ao deixar seu veículo em um espaço pago, precisa saber que aquele estabelecimento proporcionará a segurança do seu bem. Assim, manter a área limpa, bem sinalizada e com bom controle de entrada e saída, além de uma boa equipe, transmitirá segurança."
E não é só isso. Além dos trâmites normais de abertura de uma empresa - que não são poucos no país - é preciso obter alvará de funcionamento na prefeitura local, alvará do corpo de bombeiros e pesquisar na prefeitura se a lei de zoneamento permite a instalação de estacionamento rotativo no local.
É imprescindível procurar imóveis em áreas cuja exploração da atividade esteja regulamentada e que atenda integralmente às exigências legais. Muitos municípios, mesmo diante do sensível aumento da frota e da impossibilidade de ampliar o número de vagas em vias públicas, têm restringido a liberação de novos alvarás para estacionamento rotativo em áreas de crescimento urbano. No caso de locação, os consultores recomendam definir antecipadamente o prazo e o valor máximo do aluguel de forma a manter viável a atividade, com base no impacto que estes custos terão sobre os ganhos. Por fim, embora a mão de obra não seja especializada, manobristas e atendentes devem ter carteira de habilitação e ser bem treinados.
De acordo com Marcelo Gait, presidente do SINDEPARK (Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos de São Paulo), para reduzir efetivamente os congestionamentos nos grandes centros, a oferta de estacionamentos precisa ser planejada de maneira inteligente, com garagens construídas próximas às estações de trens, metrôs e terminais de ônibus com integração tarifária e transferência de público. O difícil, garantem os empreendedores, é encontrar espaços vazios nestas regiões e firmar parcerias com os órgãos públicos.
Vale lembrar, ainda, que em tempos de reservas de vagas pela internet, lançar mão de tecnologias de controle de entrada e saída, além de aceitar pagamentos com cartões, tornou-se mais do que um diferencial.
Um dos temas mais discutidos durante o congresso da Associação Europeia de Estacionamentos, que aconteceu em setembro de 2013, em Dublin, foi o de meios de pagamento.
De acordo com os especialistas em engenharia e estratégia de mercado, os pagamentos sem uso de dinheiro irão transformar o setor nos próximos anos, porque facilitam processos e diminuem riscos. "O mercado já disponibiliza terminais de autoatendimento, onde o usuário insere o tíquete que retirou na entrada e faz o pagamento por meio de cartão de crédito ou débito, sem a necessidade de um atendente", afirma o executivo. "A medida, além de reduzir riscos de furtos, roubos ou desvios, ainda diminui o quadro de mão de obra".
Empresário cria plataforma que faz as reservas de vagas pela internet
Com a indústria automobilística batendo recordes de venda e a dificuldade de estacionar até dentro dos shoppings centers - leva-se em média 22 minutos para encontrar uma vaga no Center Norte, em São Paulo -, o publicitário Bartholomeu Cruz resolveu pesquisar o mercado de estacionamentos. Ao contrário da maioria dos interessados no ramo, não saiu atrás de áreas para compra ou locação. Pelo contrário, optou pela criação de uma plataforma de reservas de vagas pela web. "Se as pessoas já compram ingressos para o cinema com antecedência e passagens aéreas pela internet, por que não reservar a vaga para o carro, sem estresse?", questiona. "O modelo de negócio não é exclusivo, já é adotado na Europa e nos Estados Unidos com muito sucesso", conta.
A plataforma Reservagas começou a operar em agosto de 2013, tendo como primeiro parceiro a MultiPark, que acabara de lançar o maior estacionamento em torno do aeroporto de Cumbica. Segundo o empresário, os dois lados ganham. O consumidor localiza o estacionamento, pesquisa preços e reserva uma vaga com benefícios exclusivos. O estacionamento, por sua vez, antecipa sua venda de vagas, garantindo receita, além de contar com um projeto de comunicação diferenciada, gerando maior rentabilidade.
O processo é simples, a pessoa entra no portal, escolhe o estacionamento que deseja, o horário, a data, faz a reserva e paga com cartão de crédito. Além do preço da estadia, o usuário paga uma taxa de R$ 3 pelo serviço e tem acesso a 600 estabelecimentos, distribuídos por São Paulo, capital e interior, Rio de Janeiro e Brasília. Todos oferecem benefícios. Em Congonhas, por exemplo, o cliente pode contar com traslado grátis até o aeroporto ou com uma lavagem.
"Os aeroportos foram a porta de entrada do portal", diz Cruz. "Agora, fechamos parceria com a Web Viagens, que inclui o estacionamento no pacote, a oferta de serviço mais nova do mercado de turismo." O empresário lembra, ainda, que a Reservagas é o estacionamento oficial da Decolar.com em Congonhas e em Viracopos. Assim, quando finaliza a compra o cliente ganha 10% de desconto no traslado. A parceria será estendida a sete outros aeroportos.
Com a proposta de somar mil estabelecimentos na carteira até o final do ano, a startup fechou parceria com a americana ParkMe, que presta serviço semelhante em outros países. Com o negócio, a Reservagas passou a contar com a estrutura de um aplicativo para dispositivos móveis e com os dados de 28 mil estacionamentos em 32 países. A empresa americana, por sua vez, adquiriu todas as informações sobre estacionamentos no Brasil, além do modelo de negócio da Reservagas.
Paralelamente, Cruz criou o programa VagaBarata, que trabalha com cerca de 2.000 vagas ofertadas com descontos agressivos de até 50%. "Um pacote de três diárias em aeroporto custa em média R$ 100, com o VagaBarata, sairá por R$ 50", afirma Cruz, destacando que a proposta da plataforma não é ser apenas um site e um aplicativo, é ser uma geradora de negócios para o setor.
Fonte: Valor Econômico (SP), 30 de abril de 2014

Categoria: Fique por Dentro


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