Os estacionamentos, enquanto atividade econômica, vêm apresentando uma evolução satisfatória, com um crescimento sucessivo da demanda, porém, já enfrentam desafios que podem comprometer a sua rentabilidade no médio prazo.
O principal desafio decorre do aumento da demanda, acima do crescimento da oferta, o que leva, no curto prazo, ao aumento dos preços, mas - em contrapartida - também a uma reação do consumidor por soluções alternativas.
O que alguns teóricos sonham é que os usuários dos automóveis deixem o veículo para usar um meio coletivo (o transporte público) ou alternativo (bicicleta).
Porém, o marketing da indústria automobilística sustentando - com pesadas campanhas mercadológicas - a cultura do automóvel, como objeto de desejo, faz com que as pessoas não deixem de comprar ou trocar o seu automóvel.
Com o crescimento econômico continuado e ascensão social e econômica de pessoas e famílias de baixa renda à classe média, a frota de automóveis continuará ampliando-se.
Deverá também continuar aumentando a quantidade de viagens, seja a trabalho, com o aumento de empregos, seja para compras - dada a melhora do poder de consumo -, para lazer, para estudo e demais atividades urbanas, externas à residência.
O que está em mudança é o tamanho dos percursos, com a aproximação dos locais frequentados pelas pessoas dentro da cidade.
Diante das dificuldades de movimentação dentro da cidade, há uma tendência das pessoas de buscarem um trabalho mais próximo da casa, ou mudar-se para mais perto do trabalho. A residência é mais estável do que o trabalho.
Ademais, para o decisor do local de trabalho pode ser individual. Já o local da residência envolve mais pessoas, os componentes da família que podem ter desejos de destinos diversos. Então um dos membros pode ficar próximo ao emprego, mas os demais não.
Em uma conjuntura de baixo crescimento e menores oportunidades de emprego, os desempregados não podem se dar ao luxo de escolher o local do trabalho, em relação à sua residência. Ou os empregados a buscar a troca de emprego para ficarem mais próximos da sua residência.
Quando a economia cresce continuamente e oferece maiores alternativas de emprego essas mudanças são mais factíveis.
A continuidade do crescimento faz com que esse movimento, inicialmente marginal, se amplie.
A consequência é que pessoas deixem o carro em casa para fazer a viagem a pé ou de bicicleta. Mesmo quando usam o carro não vão para os grandes corredores, onde ocorre o maior congestionamento.
A questão principal desse processo silencioso é que não apresenta grandes repercussões no curto prazo.
Será subterrâneo até que venha a emergir e aí será percebido como um fato novo, quando - na realidade - é um processo longo já em andamento.
Resultará numa redução de demanda de carros nas ruas e nos estacionamentos.
O que ocorre e poderá ocorrer é que essa redução se reflita num crescimento menor da demanda e não numa contração absoluta dessa. O que faz com que os efeitos da mudança não sejam percebidos.
Num dado momento histórico, a curva decrescente de crescimento da demanda se encontrará com a curva crescente da oferta, passando a gerar maior ociosidade no uso de vagas dos estacionamentos.
Esse é um problema estrutural em curso, cuja incógnita principal está na percepção de quando irá ocorrer.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.