Em função dos movimentos de rua da classe média (ou não) o prefeito paulistano e petista resolveu cutucar a classe média, reduzindo drasticamente as faixas de circulação dos automóveis, para dar lugar à circulação exclusiva de ônibus, sem adotar qualquer salvaguarda ou alternativa para os motoristas. Com provocações verbais próprias ou através do secretário dos Transportes: "Não são os ônibus que atrapalham o carro, é este que atrapalha os ônibus", ou "o motorista tem que repensar em utilizar o carro", ou ainda "deve deixar o carro e usar o transporte coletivo".
Eles bem sabem que no eixo 23 de Maio, Rubens Berta, Washington Luiz, a única opção de transporte coletivo é um serviço de ônibus de má qualidade. Mas, ao proibir inclusive o táxi de circular na faixa, não só quer demonstrar que há um aumento de velocidade dos ônibus favorecendo os seus usuários - que são, na maioria, pessoas de menor renda, sem possibilidade de comprar um carro ou, quando conseguem, sem condições de usá-lo no dia a dia -, como quer penalizar a classe média, levando-a a perder mais tempo no trânsito e aumentando a sua irritação.
Sabe bem que esses motoristas são minoria dentro do conjunto de eleitores, em contraposição à maioria que é usuária dos ônibus. Corajosa ou irresponsavelmente estaria beneficiando a maioria em detrimento da minoria. O discurso é esse, mas na prática envolve um sentimento: essa minoria (do qual ele faz parte) que "se lixe": "vire-se" para achar uma solução individual. A Prefeitura não vai "dar colher de chá" e ampliar as vias. Ao contrário, vai restringir cada vez mais.
Esse destemor em enfrentar ou "cutucar" a classe média seria uma estratégia maquiavélica: "fazer o mal de uma só vez". Põe o rebanho de "bodes mal cheiroso" numa sala, para ver quem sai dela (no caso, deixa o carro em casa) e depois vai tirando um a um.
Conseguiria, num primeiro momento, aumentar a velocidade média dos ônibus, reduzir o volume de carros em circulação com uma transferência parcial para os sistemas de transporte coletivo e, ao longo do processo, faria concessões, assim como adotaria medidas para melhorar a mobilidade em geral, reduzindo o grau de irritação. Essa melhoria global seria utilizada para demonstrar, nas próximas eleições, que a estratégia seria eficaz. Com isso poderia disputar a reeleição, em 2016, com bons resultados.
O problema é que em 2014 há eleições gerais, envolvendo tanto o governador, como o presidente, com o PT pretendendo conquistar o Governo do Estado e se manter na Presidência. Cerca de 6 milhões de eleitores paulistanos pesam no conjunto e a classe média estadual, assim como a nacional podem ficar ainda mais temerosas com o "modelo petista de gestão".
As restrições ao uso do carro são percebidas como ofensas à classe média, e a sua repercussão não se limita aos motoristas paulistanos. E o tempo para ajustar é pouco. O risco político assumido por Haddad é alto.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
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