Os centros das grandes cidades foram ocupados com edificações sem previsão de garagens, pois isso não fazia parte do modo de vida dos moradores. Na maior parte dos casos o automóvel nem existia.
Sem citar as velhas cidades européias, mesmo as capitais do Brasil (com exceção de Brasília e Palmas) têm um centro com poucas vagas para estacionamento de automóveis, e dificuldades de acesso e circulação. Aliás, essas nem centro, na forma tradicional, têm.
Em alguns casos o miolo central da cidade foi preservado, sem a circulação de veículos, ruas de pedestres, desenvolvimento de atividades comerciais e de lazer. A modernização ocorreu em outra região, formando novos pólos de escritórios, compras e outras atividades, com suprimento de vias e de áreas de estacionamento.
Mas, de outro lado, centros tradicionais se degradaram, com a transferência das atividades para outras regiões. A riqueza - que caracterizava a ocupação do centro - migrou para outras regiões e o espaço foi tomado pela pobreza. Que reflete uma degradação física, social, ambiental e cultural.
O Poder Público, juntamente com organizações não governamentais, buscam a revitalização do centro. Revertendo o processo de degradação.
Em São Paulo, o Poder Público, tanto o estadual como o municipal, vem tentando a revitalização do centro, pelo retorno a esse de repartições públicas, sedes de empresas estatais, e a atração dos fornecedores das mesmas.
Com isso aumentou a circulação de veículos e a demanda por estacionamentos.
Em São Paulo, muitas lojas e agências bancárias fechadas foram transformadas em estacionamentos improvisados, afetando o tráfego, pois precisam fazer as manobras no meio da rua, para acomodação dos veículos nos exíguos espaços.
Os programas de revitalização buscam quatro ocupações para os centros: a residencial, o trabalho, o comercial e o lazer.
A residencial enfrenta a dificuldade de falta de estacionamento para os veículos dos moradores. O que limita a demanda. A principal demanda é dos que não têm renda suficiente para ter e manter um automóvel. São estudantes, autônomos, casais jovens e outros. A tentativa de levar uma demanda de maior renda se foca em idosos que já não têm grande necessidade de se movimentar e, por isso, não precisam de um veículo próprio. E também aqueles que por decisão pessoal não querem ter um automóvel.
A relação vaga por imóvel ou por família é menor que de outras regiões residenciais. Mesmo assim, a falta de vagas é uma limitação para uma graduação econômica residencial no centro tradicional. Ou seja, para a ocupação por pessoas de maior renda, capazes de dinamizar economicamente a atividade comercial no próprio centro.
A geração de vagas privadas para os que trabalham no centro enfrenta o dilema do curto prazo de ocupação. Somente são ocupadas durante o dia e nos dias úteis. O que leva a um aumento de preços quando abertos, para cobrir os custos totais. Esse é o dilema das garagens subterrâneas.
A cidade (o centro tradicional) se esvazia à noite e nos finais de semana. E as garagens privadas também. Mas as garagens subterrâneas, como garagens públicas, deveriam ficar abertas. Com custos e pouca receita.
Os estudos de viabilidade das garagens subterrâneas tendem a superestimar a demanda e os supostos déficits de oferta.
Demanda genérica não é um indicador adequado, pois há grandes diferenças entre os horários de pico e de vales.
Não há recursos e investimentos que suportem o pleno atendimento das demandas de trânsito, sejam nas vias, como nas garagens.
É preciso considerar, ademais, as demandas geradas pelas demais atividades (comerciais e lazer) cujo processo é interativo e interdependente. Sem estacionamentos, as atividades de lazer não se desenvolvem. Sem atividades de lazer os estacionamentos privados não são viáveis. O mesmo ocorre com as atividades comerciais de maior renda.
Os estudos de demanda de estacionamento nos centros requerem uma metodologia específica.
*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.