Em eventos de engenheiros, em resposta à pergunta de soluções para o trânsito, é inevitável a proposição do pedágio urbano, não obstante sejam poucos os casos efetivos de sua implantação e mesmo o caso mais "badalado", que é o de Londres, está com muitos problemas, com uma forte oposição e risco de ser extinto. Na Convenção da Upadi - União Pan-Americana das Entidades de Engenharia, um dos palestrantes decretou (ou anunciou) a morte do pedágio de Londres.
É indubitável que a implantação do pedágio diminui o tráfego nas vias pedagiadas porque muitas pessoas deixam de circular nelas, por não desejar ou não poder pagar os valores cobrados. Mas a primeira pergunta que é preciso fazer é o que acontece com as viagens ou os deslocamentos das pessoas que, antes da sua implantação, usavam o carro particular nas mesmas: em curto, médio e longo prazos.
Em curto prazo, a reação é não sair de carro ou ir com o carro até os limites da área pedagiada e de lá usar um transporte público. A conseqüência é o aumento da demanda dos estacionamentos nas áreas limítrofes, assim como dos transportes públicos.
Se o transporte público tiver alguma qualidade e suportar o aumento de demanda, uma grande parte dessas pessoas manterá o local de trabalho, de estudo, de compras ou de serviços médicos e adotará, de forma mais permanente, a sua utilização exclusiva. Já para a modalidade mista, com estacionamentos de transferência, a sua adoção dependerá das condições e preços dos estacionamentos.
Dentro da dinâmica do mercado, aumentando a demanda será natural a elevação dos preços dos estacionamentos de transferência. Nesse caso, haverá um preço de equilíbrio, pois, se a elevação levar o preço acima do valor do pedágio, o usuário poderá preferir pagar o pedágio em vez de arcar com os custos dos estacionamentos.
Em São Paulo, para que o pedágio seja competitivo com os estacionamentos deverá custar entre R$ 10,00 e R$ 15,00 por dia.
Num segundo momento, a adoção do pedágio fará com que muitas pessoas se afastem das áreas pedagiadas como locais de destino, provocando o seu esvaziamento e degradação.
Há sempre que considerar no processo três figuras fundamentais: os decisores, os seguidores e os clientes.
Os decisores são os que em função das restrições ou facilidades decidem onde estabelecer o seu local de trabalho, seja o escritório, a sua loja ou o seu consultório. Os seguidores são os empregados que têm de seguir a decisão do patrão. E, se quiserem manter o emprego, precisam mudar os seus hábitos em relação aos meios de transporte.
Mas uma outra figura importante no processo é o cliente, pois esse pode deixar de usar o escritório de advocacia, a loja ou o consultório médico, em função dos eventuais custos do pedágio.
Em São Paulo, importantes escritórios de advocacia que resistiram em ficar no Centro acabaram indo para os Jardins em função da pressão dos clientes.
No médio prazo, dois cenários podem ocorrer: o primeiro é que o preço do pedágio se desvalorize, com dificuldade do Poder Público em reajustá-lo, e com isso volta a haver um movimento maior, com novos congestionamentos.
Outro, é que a transferência de atividades de destino faça com que o congestionamento mude de lugar, indo para novas áreas, com a necessidade de estabelecer o pedágio também nessas áreas. Seguindo esse processo, o pedágio abrangeria uma grande parte da cidade, ao menos todo o centro expandido. O que determina uma elevação de custos.
Uma alternativa em algumas cidades é um IPVA seletivo, com a "compra" de placas para circulação, com valores mais elevados. É uma solução mais simples que, no caso de São Paulo, substituiria o rodízio. E que poderia ser adotado sem ferir a promessa do prefeito eleito de não implantar o pedágio urbano.
A eventual implantação do pedágio urbano não pode ser dissociada de uma política de estacionamentos cuja dificuldade maior está no fato de que grande parte é de estabelecimentos privados, com cobrança de preços comerciais e não tarifas de serviços públicos.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.