Parking News

A arquiteta italiana Teresa Sapey tem base em Madri e ficou conhecida reformulando estacionamentos. Com projetos inovadores (foto), ela recria os espaços conhecidos por serem escuros, desinteressantes, amedrontadores e antes conhecidos como "não-lugares". O termo, cunhado pelo antropólogo francês Marc Augé, define espaços em que o homem não vive, não se relaciona, não se apropria de nenhuma forma.
Sapey disse em entrevista à Folha de S. Paulo que quer mudar essa percepção. Ela já ganhou prêmios da revista inglesa "Wallpaper" e da ONU, por projetos beneficentes.
O apelido "Madame Parking" foi dado pelo arquiteto francês Jean Nouvel, amigo de Sapey, em referência ao trabalho com estacionamentos.
Com a crise, ela disse que tem feito menos projetos na Espanha, mas conta que é por causa do momento ruim na economia que a decoração de Natal que fez em Madri para 2010 será usada pelo terceiro ano consecutivo.

Folha - Por que estacionamentos?
Teresa Sapey - Por que não? Mas começou com um projeto em Madri chamado Hotel Puerta America, que chamou arquitetos famosos, como Norman Foster e Zaha Hadid, para formular seus espaços.
Pedi para participar, mas não tinha mais área disponível no prédio. Então peguei o estacionamento, que ninguém nem lembrava que existia.
Depois de pronto, usaram para festas, apresentações, casamentos. Virou uma máquina de fazer dinheiro porque cada vez que alguém fazia algo lá pagava pelo espaço.
Ninguém achou que um estacionamento poderia ser tão bem sucedido.

Folha - Mas dessa vez foi uma coincidência, por que sempre projetar estacionamentos?
Teresa - Olhe para os aeroportos. Eles foram feitos para pegar o avião e viajar, mas agora são shoppings. Os estacionamentos nasceram do mesmo jeito, mas percebemos que, mesmo quando se está com pressa, você passa muito tempo lá.
O tempo de entrar, sair, voltar, pegar suas coisas. Esses dez minutos podem ser usados de maneira prazerosa se você vê coisas bonitas, se é agradável. Se pode fazer outras coisas, ter outros serviços úteis, fará com prazer.
A pessoa que pensa que estacionamento não precisa de design também poderia pensar em viver numa casa sem janela porque só dorme na casa.
E ao pensar assim, a vida toda só é um lugar de passagem. É um estilo de vida. Passar por um lugar todos os dias interfere na sua vida.

Folha - Por que você acha que um de seus estacionamentos em Madri foi escolhido pela cantora Madonna para uma festa?
Teresa - Porque é muito mais interessante usar um estacionamento legal que um hotel, por exemplo. E é um estacionamento muito especial.

Folha - Você se preocupa com a mobilidade urbana?
Teresa - Acho que precisamos de um carro. O que tem que ser feito por campanhas é estimular as pessoas a comprarem apenas um carro. Temos que educar as pessoas a usarem carros de maneiras inteligentes.

Folha - Que aspectos são importantes num estacionamento?
Teresa - Ao fazer um estacionamento, você planeja e confere coisas como espaços de carros, saídas de emergência, circulação - não só do carro, das pessoas andando também -, onde pagar, acesso de deficientes, crianças.
Também tem que se olhar adiante e pensar que o estacionamento pode não ser mais um estacionamento daqui a 15 anos.
Pensar em como o espaço pode ser transformado já o prepara para ser algo diferente. Ao fazer um espaço muito fechado, é muito mais difícil transformá-lo depois.
Também penso em qualidade do ar. Um bom estacionamento dará muito dinheiro. Por exemplo, o estacionamento público que eu fiz em Madri sempre está cheio. Tem 99% de ocupação todos os dias, o ano inteiro.
E já ouvi relatos de pessoas que param lá mesmo tendo estacionamentos mais perto do trabalho simplesmente porque gostam do ambiente.

Folha - O antropólogo Marc Augé define estacionamentos como "não-lugares" inabitados. O design muda isso?
Teresa - Eu leio Marc Augé e estou na verdade colocando em prática o que ele pensa sobre espaços e na vida comum e em como a vida comum desenvolveu esses lugares, mas, de alguma forma, eu tento trazer personalidade para "não-lugares".
Também já fiz projetos para calçadas, por exemplo. Sim, eu tento transformar esses "não-lugares" em lugares.

Folha - Quantos estacionamentos você já fez?
Teresa - Seis na Espanha, um em Roma e mais uns dez entre competições que não foram pra frente por causa da crise. O último é esse de Roma, que é de um condomínio fechado.

Folha - O que achou dos estacionamentos em shoppings que visitamos em São Paulo (Iguatemi, JK Iguatemi e Bourbon)?
Teresa - Achei todos muito feios. O do Bourbon me lembra Chicago (construído para cima). O primeiro (Iguatemi) achei mal iluminado. O melhor foi o último (JK Iguatemi), mas todos têm sinalização ruim. Eles tiram a vontade de comprar qualquer coisa.
Fonte: Folha de S. Paulo, 23 de novembro de 2012

Nota do SINDEPARK:
Gostaríamos de ressaltar que a arquiteta italiana Teresa Sapey esteve no Brasil em novembro a convite da Abrapark, para participar como conferencista do 2º Congresso Brasileiro de Estacionamentos, que teve o apoio do SINDEPARK para sua realização. Veja ainda nesta edição os destaques desse evento que é o único realizado no País voltado exclusivamente para o setor.

Categoria: Geral


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