Parking News

Por Jorge Hori*

A Prefeitura de São Paulo, para atender a um pequeno grupo de cicloativistas, está pintando quilômetros de faixas, nas vias públicas, chamando-os de ciclofaixas, que pouco servem para os ciclistas. Poucos as usam. O argumento é que irá mudar a cultura e elas passarão a ser mais usadas no futuro, com as bicicletas substituindo o carro.
O objetivo real, de curto prazo, é eliminar as vagas de estacionamento nas vias públicas, na suposição de que sem vagas gratuitas os motoristas deixarão de usar o carro. Poderiam usar os estacionamentos pagos, mas os elevados preços só seriam opção para poucos. Ademais, reduzindo a oferta, a tendência seria de elevação adicional dos preços dos estacionamentos.
É provável, ainda que não existam pesquisas comprobatórias, que tenha ocorrido a redução da atração de carros para essas regiões onde a ciclofaixa eliminou as demandadas vagas de estacionamento. Só que não reduziu apenas a chegada dos carros, mas também as pessoas mudaram de destino, principalmente preferindo fazer compras em outros locais, sem as mesmas restrições. O comércio que atendia os clientes da região os perdeu e alguns comerciantes já estão fechando as portas. Nas áreas mais centrais, esse processo de mudança do comércio local irá se agravar a partir de 2015 com os aumentos do IPTU. A expectativa das autoridades é que as pessoas passem a usar a bicicleta para fazer as compras, como ocorre em outras cidades no mundo. Só que é um processo lento e demorado e, quando os consumidores passarem a buscar as lojas, não as encontrarão mais. Terão fechado, pois não possuem fôlego financeiro para aguentar a queda da demanda. Se apelarem para o crédito bancário para reforçar o seu fluxo de caixa, quebrarão mais cedo.
Tirar as vagas nas ruas de comércio para colocar ciclofaixas equivale a "jogar fora o bebê junto com a água suja do banho". A demanda das lojas cairá, as lojas fecharão, os empregos irão embora, a área se degradará, a mobilidade melhorará, pois a movimentação cairá, com as faixas vermelhas e vazias como o símbolo da decadência e até os estacionamentos pagos da região terão queda de demanda. A bicicleta, mesmo que alcance um uso mais intenso, não terá capacidade de dinamizar essas áreas comerciais que não possuam outros fatores de atração, como uma estação metroviária.
A Prefeitura Municipal está matando o comércio de rua, forçando-o a ir para os shopping centers, onde o cliente tem maior oportunidade de encontrar vagas. O mesmo irá ocorrer com os restaurantes. As áreas lindeiras às ciclofaixas tenderão a ficar vazias, sem dinamismo, sem vida.
O comércio de bairro, de frente para as ruas, atende predominantemente os moradores do próprio bairro, exceto no caso do comércio especializado, como os de lustres na rua da Consolação, dos vestidos de noiva na Rua São Caetano, dos eletrônicos na região da rua Santa Efigênia e outros tantos.
Apesar da pequena distância, as pessoas preferem usar o carro a ir a pé.
A redução das vagas nas ruas de comércio teria o objetivo secreto de incentivar o deslocamento a pé, reduzindo o uso do carro para pequenas distâncias. Mas isso não ocorre pelas dificuldades em andar a pé, na cidade.
Pesquisas recentes confirmam que a razão principal do baixo volume de deslocamentos a pé é a péssima condição das calçadas, irregulares e mal conservadas. Tempos atrás, a solução da Prefeitura Municipal, diante da escassez de recursos, foi tornar as calçadas uma extensão do imóvel e não uma via pública. Transferiu a responsabilidade ao morador e o resultado é esse de calçadas intransitáveis.
A melhoria da mobilidade urbana começa com a ampliação dos percursos a pé e não de bicicleta. Para isso o investimento prioritário da Prefeitura deveria ser a calçada e não a ciclofaixa. Os pedestres ainda não se organizaram como podoativistas, no entanto, poderão vir a fazê-lo.
Os movimentos sociais a favor da melhoria das calçadas são crescentes, com atenção especial para os portadores de deficiência.
Em muitos casos há um real conflito entre ampliar as calçadas ou estabelecer as ciclofaixas. Em qualquer das hipóteses, a solução irá reduzir os estacionamentos na via pública.


* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.

Categoria: Fique por Dentro


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