Parking News

Jorge Hori *

A crise mundial não é um episódio conjuntural, mas o estertor de uma cultura ou de uma civilização caracterizadas como a cultura ou civilização ocidental. São os sintomas do seu colapso.
Essa civilização que tem como suporte econômico o capitalismo não irá se extinguir, mas irá se renovar, com outros fundamentos. A principal mudança será na relação do homem com a natureza.
A chamada "civilização ocidental", que teve uma fase de predominância européia e entrou em decadência com a Primeira Guerra Mundial (apesar de ser apenas européia), se renovou com a transferência do seu centro para a América. E se expandiu territorialmente, envolvendo uma civilização oriental secular. Primeiro foi o Japão, depois a Coréia do Sul e os tigres asiáticos e, mais recentemente, a China. Não conseguiu dominar a civilização muçulmana, embora tenha conquistado grandes espaços dentro dela.
Esse "modelo civilizatório" se caracteriza por uma aspiração sucessiva de consumo, em que a melhoria da condição ou qualidade de vida é dada pelo acesso ao mercado de consumo, com duas vertentes básicas: a dos que já têm, na busca de novos produtos, nas inovações para a satisfação do consumo, e dos que não têm como alcançar os bens básicos, mas entre os quais o automóvel é o grande objetivo.
O automóvel é o maior símbolo, ícone, desse modelo civilizatório e a GM a sua maior empresa. A GM vai sucumbir nessa crise. Não como marca, mas como grupo empresarial. Para sobreviver, terá de desfazer o seu império, fechando fábricas, vendendo participações ou subsidiárias pelo mundo todo. A GM brasileira tem condições de sobreviver, mas em outras bases. Até mesmo ser assumida por um grupo brasileiro, com apoio governamental.
A indústria automobilística brasileira entrará em novo ciclo de queda após sucessivos recordes de produção e de vendas. Inexoravelmente, apesar dos medicamentos de urgência proporcionados pelo Governo.
O ciclo anterior foi baseado na emergência do PACHECO. Um fenômeno percebido, mas pouco analisado (até então) e tratado de forma caricatural, pelo próprio apelido: é uma sigla formada pelas iniciais de PAssat, CHEvette e COrsel, caracterizando os carros usados que eram comprados como o primeiro pela população de menor renda.
Estimulada pelas facilidades de financiamento, essa população foi levada a se incluir na "civilização do automóvel", e dar o suporte à dinâmica do mercado, com a sucessiva troca de veículos usados (caracterizados como seminovos) por novos.
A maior parte dos carros novos produzidos pela indústria automobilística não era para o "primeiro carro", mas para a substituição. Era passar de um carro "obsoleto" para um carro moderno, cheio de inovações acessórias. O que era proporcionado não apenas pelos financiamentos, mas pela suposta pequena diferença entre o valor do novo e do usado.
Com a mudança da situação, os carros usados perderão valor, mas mesmo assim ficarão "encalhados". Não apenas nas concessionárias, mas com os seus proprietários. Esses adiarão a troca. A queda das vendas reflete apenas o adiamento das trocas.
O PACHECO é uma espécie de "subprime" brasileiro. Muitos dos que compraram o seu "primeiro carro seminovo" não têm condições de continuar pagando. Terão o seu veículo tomado, ou mesmo devolvido, lotando os pátios dos leilões. Sem novos compradores.
Os financiadores estão com uma "carteira podre": os menos ruins foram comprados por bancos maiores, dentro da política monetária promovida pelo Governo. Até agora se conseguiu evitar a quebra explícita de qualquer banco, mas alguns já estão sendo desativados.
O trânsito continuará ruim, na cidade de São Paulo, mas aí se verá que, mesmo sem o emplacamento diário de mil ou mais carros por dia, os congestionamentos continuarão.
A quem atribuir a culpa?
E quais serão os impactos sobre os estacionamentos?
A demanda irá cair, mas provavelmente de forma não brusca, como também não foi brusco o crescimento apesar do aumento da frota. Isso porque o aumento maior foi na periferia. No Centro, o movimento principal foi de substituição do veículo. E na periferia, o local preferido de estacionamento é na via pública.
As ondas demoram a chegar a partir da sua origem. A "marola" do crescimento chegou aos estacionamentos das áreas de maior demanda que reagiram com aumento dos preços. A contra-reação do mercado será a redução da demanda. Com a busca do estacionamento na via pública, ainda que implique caminhadas maiores a pé.

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

Categoria: Fique por Dentro


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