Parking News

Jorge Hori*

A regulação da via pública, para o tráfego de veículos (de diferentes categorias), para as paradas ou estacionamento, nem sempre leva na devida conta as diferenças do uso real pelos motoristas e pedestres durante as várias horas do dia.
Diante dos recordes de congestionamento, uma das medidas que emergem mais freqüentemente é a proibição dos estacionamentos nas vias públicas, incluindo a retirada das vagas rotativas, conhecidas como Zona Azul.
Uma das áreas da cidade com maior densidade de vagas rotativas é a do Jardim Paulista, onde existe uma multiplicidade de uso do solo, gerando necessidades de estacionamentos, sejam de origens, como de destinos.
Estacionamento de origem é dos proprietários dos automóveis, que precisam deixar os autos nas garagens da sua residência. A área foi fortemente verticalizada com a substituição de casas unifamiliares por edifícios residenciais, com vagas para seus moradores, nos seus últimos 40 anos. Os mais antigos têm vagas insuficientes para o aumento de veículos por família (ou unidade domiciliar) obrigando os seus moradores a buscarem vagas para os veículos adicionais, muitas vezes na via pública. Resulta que as vagas permitidas da área ficam ocupadas durante a noite e, muitas vezes, durante o dia. Envolvem também as vagas rotativas. Quando o dia amanhece, as vias para receberem os veículos dos que saem de casa, ou que transitam por ela para outros destinos, ainda estão tomadas com muitos carros estacionados. O esvaziamento vai ocorrer em função dos horários de proibição.
E as vagas permitidas vão sendo preenchidas por aqueles que trabalham na área. Buscam as vagas e os usuários habituais já conhecem os hábitos e onde encontrar as vagas. Que ficam ocupadas na maior parte do dia.
Se essas vagas forem eliminadas ao longo do horário comercial, a tendência será a substituição do transporte individual pelo coletivo. Isso porque os usuários são empregados, que têm carro, mas não têm condições de pagar a mensalidade de um estacionamento. Cujo valor é próximo da mensalidade do carro. Alguns dos empregados mudarão de emprego pela dificuldade de estacionamento, mas serão substituídos por outros, usuários do transporte coletivo.
O uso pelos moradores tenderá a continuar, pois os usuários têm a mesma restrição financeira. Correm o risco, pois não têm como pagar um estacionamento privado. A alternativa será vender o carro adicional, o que irá determinar mudanças significativas nos hábitos diários. Provavelmente o reflexo macro será de piora no trânsito. As famílias irão morar mais distante, em imóveis com maior disponibilidade de vagas, mas as viagens e movimentação serão maiores.
A proposição de eliminação das vagas rotativas provavelmente não prosperará, pois isso levará à decadência de parte do comércio local. Não do comércio de luxo, mas daquele mais popular que não dispõe de serviços de valet para os seus clientes. Esse talvez até goste, porque poderá eliminar uma concorrência e abrirá vagas para mais lojas de luxo.
A reação dos comerciantes, com apoio político, tornará difícil a sua implantação.
A região dos Jardins é uma das que mais dispõe de vagas rotativas, em função do comércio local.
Já tem em funcionamento, em pequenos trechos, um horário especial, entre as 7h00 e 10h00 é proibido o estacionamento, para depois se tornar uma vaga rotativa.
A extensão desse regime diferenciado de horários, provavelmente, não afetaria o comércio local, uma vez que a maior parte das lojas só abre a partir das 10 h.
Em contrapartida, liberaria a Bela Cintra para o trânsito alternativo da Rebouças, em direção ao Centro.
A idéia de que a restrição do estacionamento desestimulará a ida de carros é verdadeira. Só que não pela substituição da ida com o transporte coletivo. Será pela substituição de destino, como ocorreu com o Centro tradicional. O comércio local perderá clientes.
Só que, no caso, diversamente do Centro tradicional, com a substituição das atividades por outras de menor valor econômico, levando a uma degradação econômica que se refletiu na degradação física, poderá haver uma substituição para cima. Ou seja, um "up grade".
Se a economia continuar crescendo, com o mercado financeiro gerando sucessivas levas de novos milionários e a ascensão de uma classe média alta, o mercado de luxo precisará se expandir e poderá fazê-lo em cima do comércio da classe média, que irá se deslocar para outras regiões da cidade, abrindo espaço para as grifes. O que não ocorrerá se a economia perder dinamismo, afetando o mercado de luxo.
As circunstâncias são sempre fundamentais para a viabilização de grandes mudanças regulatórias.
Os impactos nunca são lineares e similares em qualquer das circunstâncias.

*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

Categoria: Fique por Dentro


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