Como relata Sérgio Morad, presidente do sindicato, a oferta de vagas é irregular na cidade. Há áreas bem servidas e até algumas com excesso de oferta. Mas também há áreas críticas. Uma delas é o centro da cidade, onde o déficit de vagas foi calculado pela prefeitura em 10 mil, em um estudo de 2004. A saída que o poder público vislumbra para a região é a criação de estacionamentos subterrâneos.
Nas próximas semanas, informa Rubens Chammas, diretor de desenvolvimento e intervenções da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb), serão lançados os editais de licitação para a concessão de áreas públicas para as três primeiras garagens subterrâneas da região, Pátio do Colégio (350 vagas), Mercado Central (490 vagas) e Praça Ramos de Azevedo (450 vagas). As concessões serão de 30 anos e o critério de escolha será um mix entre a melhor proposta técnica e a menor tarifa média ao usuário. Já existem nove empresas qualificadas a participar de cada licitação.
A expectativa de Chammas é que os vencedores sejam anunciados até setembro e que sejam necessários até dois anos em obras para as inaugurações. O investimento em cada garagem é estimado em aproximadamente R$ 20 milhões. No planejamento realizado pela Emurb para o centro da cidade está prevista a construção de 11 estacionamentos subterrâneos. Desses, seis foram classificados como prioritários, somando 2.500 vagas. Mas o processo licitatório, iniciado em 2006, caminha lentamente. A licitação de garagens nas praças João Mendes, Dom José Gaspar e Antônio Prado, consideradas prioritárias, foi cancelada em dezembro de 2007, quando já havia ocorrido a pré-qualificação dos concorrentes. "Detectamos problemas técnicos na configuração da licitação e já estamos prontos para iniciar novamente o processo, o que deverá ocorrer nos próximos meses", diz Chammas.
O engenheiro Antônio Carlos de Camargo, diretor da Etep, empresa que fez o estudo de localização dos terrenos a serem licitados, relata que no centro paulistano as ruas são estreitas e mais de 80% dos prédios não contam com garagens. O entorno de microrregiões, como as praças da Sé e República, é densamente ocupado por edificações, não havendo, portanto, espaço disponível para construção de garagens. O engenheiro avalia que as políticas de restrição aos veículos no centro não solucionaram o problema e até contribuíram para o declínio da região. Empresas mudaram-se devido à dificuldade de acesso e locomoção. Construtoras não se interessam em criar unidades habitacionais e equipamentos públicos, como o próprio Teatro Municipal, acabam subutilizados. "As pessoas querem e muitas vezes necessitam acessar o centro em seus próprios veículos. O que é preciso é criar condições para que isso ocorra com o menor impacto ao ambiente", diz o engenheiro.
Para Camargo, as garagens subterrâneas são uma boa alternativa, ao criarem vagas sem prejuízo da ocupação da superfície. "Essas garagens são uma ferramenta de revitalização do centro." Os estacionamentos subterrâneos são comuns na Europa. Paris conta com 350 e Madri com 370, segundo a Associação Nacional dos Estacionamentos Urbanos (Abrapark). São Paulo tem apenas dois, Hospital das Clínicas, com 700 vagas, e Trianon, com 500 vagas. Para Hélio Cerqueira Junior, presidente da Abrapark e da Estapar, empresa que participa do consórcio liderado pela Construbase, responsável pelos dois empreendimentos, a experiência paulistana não tem sido, até aqui, bem-sucedida. "A avaliação dos investidores é que os estacionamentos não representaram bons negócios", diz Cerqueira Junior. Na opinião do executivo, a prefeitura terá que apurar muito o modelo de concessão se quiser ter sucesso na implantação de novas garagens subterrâneas. As concessões das garagens Trianon e Clínicas ocorreram na gestão do ex-prefeito Paulo Maluf. Os problemas, relata Cerqueira Junior, começaram já na fase de obras. Após o início das escavações, os construtores encontraram vários obstáculos não previstos nos cadastros da prefeitura, desde dutos de cabos de eletrificação até um corredor subterrâneo utilizado pelas Clínicas para a remoção de cadáveres. "Contornar esses obstáculos encareceu as obras. A prefeitura deve apresentar um mapeamento adequado da região que licitará e compartilhar responsabilidades no caso de imprevistos", observa o executivo.
Cerqueira Junior afirma ainda que o estudo de viabilidade econômica das garagens licitadas não foi adequado. As garagens, que operam 24 horas por contrato, apresentam uma grande ociosidade à noite, perto de 90%, e nos fins de semana. Além disso, a oferta de vagas irregulares e de Zona Azul nas imediações rouba clientes durante o dia. Para completar, relata o executivo, a política de reajuste de tarifas não é clara, sendo dependente de decretos do prefeito. "Os investimentos em garagens subterrâneas são altos e só se viabilizam se o poder público criar condições para isso", conclui Cerqueira Junior.
Fonte: Valor Econômico (SP), 12 de maio de 2008