Os fatores que derrubaram a inflação em São Paulo são os mesmos que contribuíram para redução do índice geral de maio para junho, só que com maior intensidade. Enquanto os preços dos artigos de residência, como móveis, caíram 0,03% no índice geral, eles tiveram retração de 0,61% em São Paulo. Movimento semelhante ocorreu com os preços dos aparelhos eletroeletrônicos, que recuaram 0,62% no índice geral e 1,25% em São Paulo.
O movimento mais significativo de queda foi registrado em veículos novos. No índice geral, a queda de preço em junho foi de 5,48%. Em São Paulo, foi de 6,78%. Todos esses itens tiveram o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido.
"A maior redução dos preços dos bens duráveis em São Paulo reflete o fato de o mercado ser mais competitivo aqui, com maior concorrência entre lojas de veículos, eletrodomésticos e móveis", afirma Flávio Serrano, economista do Banco Espírito Santo (BES). Essa avaliação é compartilhada pelo economista da LCA Consultores Fábio Romão. "A concorrência pesa mais em São Paulo."
Serrano considera também outra hipótese para explicar por que os preços dos bens duráveis caíram mais em São Paulo, comparativamente às outras regiões metropolitanas. Ele argumenta que o ciclo de renovação desses itens, beneficiados pelo corte do IPI, pode ter se esgotado em São Paulo antes das outras praças porque aqui a renda é maior e boa parte da população já teria adquirido esses produtos. Por isso, para impulsionar as vendas, as lojas estariam reduzindo ainda mais os preços.
Romão, da LCA, diz ainda que o endividamento elevado no maior mercado consumidor do País pode ter contribuído para o adiamento de compras de bens duráveis, mesmo com a redução do IPI. Daí a iniciativa das lojas de cortarem mais os preços.
Sem inflação
Economistas ressaltam que o fato de o IPCA em São Paulo ter sido zero em junho não significa que a inflação tenha acabado e muito menos que os preços não tenham oscilado nesse período. "Inflação é processo contínuo de alta de preços que tem de ser observado ao longo de um período mais longo", diz Serrano, do BES.
O IPCA mede a variação média dos preços durante um período, acrescenta Romão, da LCA. O IPCA nulo registrado em São Paulo no mês passado deve ser interpretado da seguinte forma: na média, as oscilações positivas de preços no período foram equivalentes às negativas e uma coisa anulou a outra.
Serrano destaca também que a inflação zero no mês pode despertar espanto por parte dos paulistanos porque geralmente as pessoas só se lembram dos preços que subiram no período e se esquecem daqueles que caíram e contrabalançaram a alta. Outro ponto polêmico é que a inflação é calculada com base em uma média de gastos que, necessariamente, pode não ser o desembolso de uma pessoa determinada.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 6 de julho de 2012