Na capital paulista, um exemplo claro de como tem sido desenvolvida a área comercial vem da comparação entre a concentração de shoppings e espaços tradicionais, por conta de ficarem cada vez mais escassos os terrenos em São Paulo para a expansão comercial imobiliária. "Existem perto de 50 boas ruas comerciais em São Paulo, como 12 de Outubro, Joaquim Nabuco, João Cachoeira. No site da Prefeitura de São Paulo constam projetos nesse sentido. Creio no crescimento de polos, como o da Avenida Rebouças, onde veremos em breve mais um centro de comércio e serviços. A ideia é que você (o comerciante) não esteja sozinho na rua, mas em um espaço comercial organizado, com aluguel pago em sinergia. É uma alternativa aos shopping centers em termos de custos", comenta o sócio-diretor da consultoria especializada em varejo ba}Stockler, Luís Henrique Stockler.
Segundo o especialista, várias regiões tendem a ser articuladas em São Paulo no sentido de organizar as áreas comerciais, e há muitas redes, de franquia ou não, atentas a esse novo panorama que deverá ser desenhado nos próximos anos. "A gente tem percebido que empresas como as do setor de moda, por exemplo, enfrentam um dilema: o de acompanhar a inauguração dos shopping centers, com esse boom que vemos no setor, mas ao mesmo tempo vivenciar o aumento de preço do aluguel nesses centros de compras. Ainda que as margens sejam boas, as marcas têm de analisar a necessidade de espaços maiores e, com isso, têm de arcar com altos custos de locação. É tudo questão de se fazer uma conta", afirma Stockler.
Para o consultor, a explicação do maior interesse de algumas redes em voltar seu planejamento estratégico para operações em rua está justamente em questões como a mudança de conceitos, também por conta dos clientes. Para ele, para que a loja de moda seja competitiva ela precisa ter ofertas, espaço para mostrar cores, detalhes, manequins - como no caso de marcas que atuam no ramo de vestuário e acessórios. "Tem de ser uma loja razoavelmente grande, de 60 a 80 metros quadrados, em média. É bom pensar que esse tipo de operação consegue vender, em boa parte dos casos, o mesmo de uma loja de até 120 m2, praticamente." Em sua opinião, as empresas que têm escolhido implementar operações em rua não estão negando os centros de compras, mas aprendendo a analisar na ponta do lápis o que é mais rentável.
Demanda pelos emergentes
Enquanto a apuração do Ibope Inteligência mostra a maioria dos consumidores frequentes em shopping centers voltados às classes A e B, o instituto Data Popular aponta a ascensão financeira das classes emergentes (C, D e E) como já responsável por mais da metade do consumo no País, sendo elas todas grandes frequentadores de lojas de rua. Há, nesse sentido, uma gama de empresas atentas aos potenciais novos clientes, e uma delas é a marca Tennis Express, criada pela holding Afeet, um grupo de cerca de 160 lojas, entre próprias e franquias, e que detém outras três bandeiras: Authentic Feet, Artwalk e Magic Feet.
Em entrevista ao DCI, Adriano Obeid, sócio-diretor da Tennis Express ressalta os negócios da empresa como os de uma "franquia democrática, que opta por este tipo de localização de ponto de venda em regiões de grande fluxo de clientes que circulam nas ruas, em vez de shopping centers".
De acordo com ele, a empresa fez um mapeamento para identificar as principais praças de comércio o País. "Temos potencial de crescimento em 5 a 6 anos de até 250 lojas, em polos comerciais de rua. Parâmetros como a população do entorno, em cidades de 200 mil pessoas que possam comportar lojas assim. Vimos que na rua o custo é mais viável do que nos shoppings hoje em dia. Os centros de compras se valorizaram muito e o custo das propriedades aumentou, impactando os aluguéis dos malls. Assim, o setor se concentrou nas mãos de grandes grupos, e quando isso acontece o preço dispara", ressaltou o executivo.
A mudança de conceito pioneira na capital
Nada mal para os empreendedores imaginar a montagem de uma loja de rua em um ponto bem conceituado, que ofereça segurança e seja capaz de ser alternativa aos centros de compras. Há alguns anos aconteceu justamente essa mudança de conceito na capital paulista, em uma rua tradicional para os moradores da zona sul: a João Cachoeira, no bairro do Itaim Bibi. De forte vocação comercial, costumava registrar altos índices de faturamento nas décadas de 1970 e 1980, quando os primeiros shoppings da cidade começaram a ser inaugurados.
A área, porém, só retomou o status de polo comercial de destaque depois de passar por uma completa revitalização, com lojas mais modernas, aconchegantes e com a oferta de sensações como as oferecidas em shoppings. O objetivo era realmente ser alternativa aos centros de compras próximos ao bairro; logo, lojistas de diferentes operações uniram-se para dar vida nova às ruas onde estavam instalados.
Tudo dependeu de melhorias na infraestrutura, padronização de fachadas e ações promocionais em grupo. Assim, a adoção da identidade de polo comercial e de serviços é uma tendência mundial, chamada de open shopping, ou "centro de compras a céu aberto", e bem conhecida nos Estados Unidos, por exemplo.
Fonte: jornal DCI (SP), 16 de abril de 2012