Os congestionamentos nas vias públicas da cidade de São Paulo decorrem de uma sucessão de opções, em que cada etapa condiciona ou restringe a subseqüente.
A primeira e grande opção estrutural está em trabalhar em São Paulo. Associada à opção de morar em São Paulo. Quem faz essas duas opções em algum momento se verá no meio de um congestionamento.
O suplemento de O Estado de São Paulo sobre as megacidades mostra diversas pessoas que optaram por sair de São Paulo e tentar viver melhor em alguma cidade do Interior.
Dentro das opções de morar e trabalhar em São Paulo, a pessoa pode optar por escolher locais próximos. Ou seja, a moradia próxima ao trabalho, que possa ser acessada a pé, ou de bicicleta. Não irá se somar aos milhares de outras pessoas que optaram por morar e trabalhar em locais distantes e que para ir da residência ao trabalho precisam fazer uma viagem mediante um veículo motorizado.
A necessidade da viagem urbana decorre dessa opção de morar e trabalhar em locais distantes. Mas há que fazer uma distinção entre os decisores e os seguidores. Os decisores são aqueles que têm poder e/ou renda para decidir o local do trabalho, ou mesmo da moradia. E podem buscar a aproximação entre a moradia e o trabalho.
Os seguidores são os trabalhadores em geral, os que para ter ou manter o emprego precisam seguir as decisões daqueles. Por que é onde conseguem um emprego. Ou porque o decisor resolve mudar o local do trabalho.
Os decisores se utilizam do carro particular para as viagens necessárias e não estão dispostos a trocar o automóvel por um transporte coletivo (ainda que esse fosse de melhor qualidade). A sua condição primária é a comodidade e a flexibilidade. Se enfrentarem alguma restrição, seja de circulação ou de estacionamento, tendem a mudar o local da origem ou do destino. Nunca do modo de transporte.
Foi o que ocorreu com o Centro tradicional. Diante das restrições, os decisores mudaram o seu local de trabalho. Foram para a região da Av. Paulista, depois para a da Av. Faria Lima, para a da Berrini. Outros foram para a Chácara Santo Antônio. Alphaville foi outro local para a instalação do seu escritório, loja, escola etc. Os industriais tendem a buscar Indaiatuba, Sorocaba, Campinas e outras cidades. Sem nunca deixar de utilizar o seu automóvel.
Já os seguidores que no Centro podiam contar com o transporte coletivo, tiveram que optar por uma viagem maior, a aquisição do carro, já que a maioria dessas novas áreas não dispunha de transporte coletivo de qualidade. Ou continuar trabalhando no Centro, aceitando trabalhos de menor remuneração.
O Centro perdeu substância econômica e isso se refletiu na degradação física e social. E ficou muito difícil atrair novamente a riqueza para nele se instalar. Sem ela o Centro não se revitalizará. Um Centro baseado apenas na classe média será, nos termos exatos, medíocre.
Se, em função da opção de localização de moradia e trabalho há uma distância maior que possa ser coberta a pé, sendo necessária uma viagem por meio motorizado, o indivíduo poderá optar por um transporte individual (próprio ou contratado, como o táxi) ou coletivo. Nesse caso, uma van, um ônibus, o trem metropolitano ou o metrô.
O metrô pode ser uma opção de melhor qualidade, mas tem uma cobertura restrita. Poucas áreas da cidade são diretamente servidas por estações de metrô. As pessoas têm dificuldade de acesso e, mesmo tendo acesso, as linhas podem não atender aos destinos desejados. O mesmo ocorre com o trem metropolitano, que ademais tem qualidade de serviços menor.
A maior cobertura dos serviços de transporte coletivo é do ônibus, cuja qualidade é sofrível.
Nesse sentido, viajar de ônibus não é uma opção, mas a falta de opção. Por uma questão de renda. Os que não possuem renda para poder se movimentar de automóvel próprio ou de táxi não têm outra alternativa a não ser andar de ônibus.
Dizer que as pessoas devem dar preferência ao transporte coletivo é, provavelmente, opinião de quem não anda de ônibus em São Paulo. Pelo menos nas horas de pico.
Sendo necessária a viagem (em função das opções anteriores) por um meio motorizado, fica a opção (não para todos) de rota e horário.
É por conta dessa opção (ou falta de opção) de escolher a mesma rota e o mesmo horário que os demais que se gera o congestionamento. Quando muitas pessoas fazem a mesma opção, dentro de uma oferta limitada, o congestionamento é a conseqüência inevitável.
Por isso, o congestionamento ocorre durante algumas horas do dia. Nos chamados horários de pico, que se ampliam cada vez mais. Nos vales as vias ficam ociosas.
As marginais ficam superlotadas durante o dia, mas ficam vazias durante a madrugada, ainda que estejam disponíveis. Porque poucos fazem a opção de viajar nesse período, preferindo (ou não tendo alternativa) de fazer a viagem nos mesmos horários que os demais.
A redução dos congestionamentos poderá ocorrer por um aumento da oferta. Mas o principal fator serão as mudanças de opções das pessoas. Desde o início. Desde a opção de morar e trabalhar em São Paulo.
Os congestionamentos geram custos sociais e perdas. Mas porque em contrapartida proporcionam benefícios. Se não proporcionassem benefícios e apenas custos, as pessoas, com o mínimo de racionalidade, mudariam de cidade.
*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.