Uma nova pesquisa, que servirá de base para a divisão da cidade em lotes e a definição do melhor tipo de garagem para São Paulo - se vertical ou subterrânea -, está sendo feita por empresas contratadas pela Estruturadora Brasileira de Projetos, uma parceria do BNDES com bancos privados. A Prefeitura pretende lançar editais de seis obras no início de 2012.
Há 24 anos, São Paulo assiste a essa novela na qual se alternam anúncios de meias medidas, como novos modelos de zona azul; projetos grandiosos de edifícios-garagem, numa cidade de terrenos cada vez mais escassos e, consequentemente, mais caros; e de planos de garagens subterrâneas. Estas últimas, ao que parece, ressurgem como a melhor solução para a cidade.
Há 24 anos, o então prefeito Jânio Quadros enfrentou grande resistência de urbanistas e ecologistas ao decidir construir duas garagens subterrâneas na capital: uma na Praça Alexandre Gusmão, nos Jardins, e outra na Avenida Enéas de Carvalho Aguiar, perto do Hospital das Clínicas. Na época, 2 mil paulistanos se reuniram na Avenida Paulista para, em protesto, abraçarem o Parque Siqueira Campos, convencidos de que as garagens acabariam com o verde da região. Os protestos impediram que outras dez garagens subterrâneas previstas no plano de Jânio Quadros fossem levadas adiante. O tempo provou que a vegetação existente acima das duas garagens não foi afetada.
Os governos que se sucederam foram adiando a solução do problema e o atual prefeito, Gilberto Kassab, até agora pouco fez a não ser sonhar com os edifícios-garagem. A Multipark, uma das maiores redes de estacionamento do País, participou dos estudos promovidos pela Prefeitura de São Paulo sobre a viabilidade dos edifícios-garagem. Em documento entregue em abril de 2010, a companhia estudou a situação do Itaim-Bibi, na zona sul, e concluiu que os edifícios-garagem necessários na região exigiriam investimentos de R$ 140 milhões, incluindo desapropriações de imóveis, investimentos em tecnologia e construção do prédio. Diante do alto custo a Multipark sugeriu, como alternativa, a construção de garagens subterrâneas. No subsolo não há gasto com desapropriações e o investimento total necessário não ultrapassaria R$ 90 milhões.
Muito além da redução de custo, no entanto, a Prefeitura de São Paulo deve se preocupar com a reorganização global do setor. Isso inclui acabar com a concorrência entre a Zona Azul e as empresas privadas parceiras dos projetos de novas garagens. Nos últimos anos, as companhias que administram as duas garagens subterrâneas da cidade sofreram sérios prejuízos por causa da tarifa mais baixa cobrada pelas vagas de estacionamento nas ruas próximas. E a cidade nada ganhou - o trânsito não melhorou nas redondezas, porque as faixas continuaram sendo usadas como estacionamento.
Se o projeto de Jânio Quadros não tivesse sido abandonado pelos governos que o sucederam, o problema dos estacionamentos seria hoje bem menor. A falta de continuidade dos projetos e de capacidade de planejamento são, infelizmente, marcantes na administração pública da maior cidade do País.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 7 de abril de 2011