Apesar da resistência dos ambientalistas e dos urbanistas, foram concluídas duas unidades, na Praça Alexandre Gusmão e na Avenida Enéas de Carvalho Aguiar. Mas os protestos foram tantos que o restante do programa foi engavetado e, de lá para cá, embora a expansão da malha viária tenha ficado aquém do necessário e a frota de veículos já ultrapasse os 7 milhões, nenhuma nova garagem foi entregue.
Os projetos apresentados periodicamente para atacar o problema vão desde novos modelos de zona azul até grandiosos edifícios-garagem que, após estudos de viabilidade mais acurados, acabam voltando às vagas subterrâneas. É o que pode estar ocorrendo agora, quando, mais uma vez, a Prefeitura anuncia a realização de audiências públicas para debater a construção de garagens subterrâneas nas vizinhanças do Mercado Municipal, na Praça Fernando Costa e na Praça Roosevelt, no centro da capital. Na verdade, não há muito mais a discutir a respeito numa cidade às voltas com um trânsito cada vez mais congestionado, analisa O Estado.
A Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão afirma que o edital para a construção das três unidades, que somam 1.390 vagas, já está pronto e a licitação "deve ocorrer em breve" para que as obras sejam concluídas no primeiro semestre de 2013. Nos últimos três anos, o governo fez estudos e propôs várias mudanças no programa de construção de garagens. Em 2009, anunciou como solução para o déficit de vagas de estacionamento nas ruas da capital a construção de 64 edifícios-garagem.
Um ano depois, as principais empresas de estacionamento do País entregaram à Prefeitura estudos que mostravam ser o seu alto custo o principal obstáculo para a construção das garagens verticais. Mais um ano foi gasto para tomar a decisão de desistir do plano.
De lá para cá, ao longo de 16 meses, a proposta das garagens do centro, que agora começa a ser discutida em audiências públicas, foi elaborada por empresas contratadas pela Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP), uma parceria do BNDES com bancos privados. A Prefeitura acompanhou os estudos e sua intenção era lançar os editais de seis obras no início de 2012.
Mas o programa que acaba de ser apresentado prevê a construção de apenas três, com um número de vagas consequentemente bem menor que o programado originalmente. É incompreensível a timidez da Prefeitura na condução da questão, que é de fundamental importância para a melhoria da mobilidade na capital. Sustenta o engenheiro de tráfego Sérgio Ejzenberg, em entrevista ao Estado, que os investimentos do governo municipal deveriam ser direcionados preferencialmente à melhoria do transporte público, como a construção de novos corredores de ônibus. Por isso, sendo a construção das garagens uma medida de inegável necessidade para um mínimo de ordenamento do trânsito, é bom que a Prefeitura deixe à iniciativa privada a liderança do projeto.
Estacionamento na capital é um negócio que poderá atrair empresas privadas para uma parceria com a Prefeitura, se forem oferecidos preços de mercado. O preço para estacionar mais que dobrou nos últimos cinco anos. Entre 2006 e 2011, os valores cresceram 116%, segundo pesquisa da agência AutoInforme. Em 2011, a elevação foi de 12,94%, quase duas vezes e meia a mais do que a inflação.
Numa cidade em que boa parte da população tem no carro a única opção para seus deslocamentos, a solução para o déficit de vagas de estacionamento é urgente. Infelizmente o que se tem feito é muito pouco.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 1º de agosto de 2012