Em reportagem que resumimos a seguir, a revista descreve que, no continente europeu, Portugal inaugurou em setembro o Parque de Ondas de Aguçadouro, em Povoa de Varzim. É a primeira estação de força maremotriz - que usa a energia das ondas do mar - para consumo comercial do mundo, num investimento de US$ 12,5 milhões. Nos Estados Unidos, no mês passado, as cidades de São Francisco, Oakland e San Jose, na Califórnia, anunciaram investimentos de US$ 1 bilhão para que os carros elétricos sejam maioria na frota até 2012. Tel-Aviv, em Israel, espera colocar nas ruas centenas de veículos movidos a eletricidade já em 2009. Para funcionar, postos de recarga elétrica estão sendo construídos - neles, o dono do carro recarrega o veículo por um sistema simples de fio e tomada.
A preocupação com meios de transporte sustentáveis não se restringe aos elétricos. O Solartaxi, o primeiro veículo solar que viajou ao redor do mundo, chegou em 4 de dezembro à Polônia, onde foi realizada uma conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a mudança climática. O veículo percorreu, a partir de Lucerna (Suíça), 52 mil km e 38 países durante mais de um ano para chamar a atenção sobre os perigos do aquecimento global.
Em maior ou menor grau, todos os países estão desenvolvendo projetos com alternativas limpas - as energias renováveis e os biocombustíveis. A média mundial de uso de energia renovável é de 13%. No Brasil, essa porcentagem chega a 46% - o que faz do País um exemplo para o planeta. Em seu discurso na abertura do encontro da ONU sobre mudanças climáticas em Poznan, na Polônia, dia 11 de dezembro, o secretário- geral da entidade, Ban Kimoon, citou o País como exemplo a ser seguido. "O Brasil construiu uma das economias mais verdes do mundo, criando milhões de empregos neste processo", disse. Belo Horizonte, em Minas Gerais, por exemplo, é referência mundial quando se trata de conscientização ambiental. Cerca de mil prédios, entre residências, hotéis e hospitais, utilizam a energia solar para aquecer a água. Leis na cidade de São Paulo e no Estado do Rio de Janeiro também determinam que as construtoras criem mecanismos para aproveitar a luz solar e usem materiais sustentáveis nas novas edificações.
O mundo resolveu investir na energia verde não por modismo, mas por necessidade. O século XX foi dos combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, mas essas são fontes de energia finitas. Levando em conta o que se conhece hoje, a previsão é de que a reserva mundial de petróleo seja suficiente para mais 40 anos. Além disso, são energias poluentes.
Uma das iniciativas mais ambiciosas em andamento no mundo é a Lei do Clima, de Londres (Inglaterra), divulgada no mês passado. A prefeitura local anunciou que pretende reduzir as emissões de carbono em 60% até 2025, estimular o uso de energia eólica e solar em edifícios públicos, empresas e residências, além de colocar nas ruas dez mil carros elétricos, com emissão zero de carbono. O exemplo londrino é apenas uma parte do que o Reino Unido vem chamando de Green New Deal, uma versão verde do New Deal - programa econômico que tirou os Estados Unidos da Grande Depressão na década de 1930. A idéia é que, em 2050, 80% dos gases responsáveis pelo aquecimento global liberados por combustíveis fósseis no transporte e na geração de energia elétrica sejam eliminados. Ao mesmo tempo, espera-se criar milhares de empregos nesta nova economia, num momento de crise financeira mundial.
Na França, o foco principal para combater o desgaste ambiental está na construção civil. Prédios e casas serão reformados para melhorar a calefação e trocar o sistema de iluminação, e, com isso, aproveitar a luz natural e diminuir o consumo. Até o Vaticano decidiu agir em prol do meio ambiente. No mês passado, a Santa Sé ativou um sistema de energia solar em vários de seus edifícios. A intenção é que 20% do gasto com energia do Vaticano venha de fontes renováveis até 2020.
Projeto Obama
O Japão é um dos maiores exemplos de eficiência energética. Desde os anos 70, com equipamentos nas fábricas que evitam o desperdício e campanhas de conscientização para a população utilizar a eletricidade de forma consciente, os japoneses fizeram o Produto Interno Bruto (PIB) crescer sem aumentar o consumo de energia elétrica. A China também está acelerada na busca por alternativas ecologicamente corretas.
O físico Shi Zhengrong, fundador da Suntech, empresa líder mundial na produção de painéis fotovoltaicos, tornou-se um dos cinco homens mais ricos do país por causa de seu negócio verde. A China pretende ter, até 2020, 100 mil megawatts de capacidade instalada somente com energia eólica - esse montante representa o que o Brasil gera de energia elétrica com todas as suas fontes.
O governo dos Estados Unidos, país considerado um dos maiores poluidores do mundo, também está, pouco a pouco, se rendendo às evidências. O presidente eleito, Barack Obama, promete investir US$ 150 bilhões para desenvolver a indústria verde no país e criar cinco milhões de empregos com ela. Em seu plano de governo, ele diz que pretende colocar um milhão de carros híbridos nas ruas até 2015 e garantir que, até 2025, 25% da eletricidade consumida no país venha de fontes renováveis.
Cumprindo sua parte de forma eficiente, os projetos e investimentos brasileiros em energias limpas não param de crescer. O Brasil tem 19 usinas que usam a força dos ventos em funcionamento, outras 20 em construção e 51 aprovadas cujas obras ainda não foram iniciadas, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O Rio Grande do Sul tem o parque eólico mais avançado da América Latina. Tem 75 turbinas com capacidade para garantir o consumo de 650 mil pessoas. Até 2010, R$ 44 bilhões serão investidos em biocombustíveis, segundo dados do Ministério de Minas e Energia. O Programa Brasileiro de Álcool (PróAlcool), criado na década de 70 como alternativa ao petróleo, hoje se destaca no cenário internacional com o etanol.
Com base na equação da contabilidade aplicada pelas indústrias (ativo menos passivo é igual a patrimônio líquido), foi desenvolvido um modelo para mensurar a relação entre a expansão das atividades econômicas e a preservação dos recursos naturais em sete países: Brasil, Rússia, Índia, China, Estados Unidos, Alemanha e Japão até 2050. De acordo com o estudo da USP, somente Brasil e Rússia terão superávit dentro de 50 anos - as florestas russas de tundra têm capacidade de absorção de carbono ainda maior que a da Amazônia.
Espalhados pelos quatro cantos do mundo, projetos inovadores utilizam de forma inteligente os recursos naturais, como sol, vento e mar, para reescrever a história do uso da energia no planeta. A energia verde está sendo utilizada na prática porque o século XXI precisa dela.
Fonte: Revista Isto É (SP), 17 de dezembro de 2008