No lugar da flanela, um talão da Zona Azul. Os guardadores de carro, ou melhor, de vagas de estacionamento do Bairro do Recife, mudaram a função original do que um dia foi a atuação do “flanelinha” (trabalhador informal que presta pequenos serviços aos motoristas que estacionam nas ruas), e se transformaram numa espécie de “cambistas” das vagas.
Em um território livre para atuar sem medo de fiscalização, eles forçam o motorista a pagar um ágio pela vaga. Não basta dispor do talão para colocar o seu próprio bilhete, cujo valor passou de R$1 para R$3, para vagas de 1h, 2h ou 5h. É preciso adquirir o que é oferecido pelo flanelinha, se não quiser ficar sem a vaga. E, nesse caso, os valores dependem da cara do cliente.
O que era para ser R$ 3 pode ser R$ 5 (66% a mais) ou até R$ 10 (233% a mais), como flagrou a reportagem do Diario. Os abusos frequentes já protagonizaram as cenas mais bizarras.
Em uma delas, na Rua Madre de Deus, uma senhora que não quis se identificar guarda as “suas” vagas com resto de cadeira e até bolsa escolar para evitar que o motorista ache a vaga sozinho e pague com folha do seu próprio talão. Foi lá que encontramos o turista do Rio Grande do Norte Fabiano Dantas, 37 anos, que pagou R$ 10 por 5h.
Questionada pelo Diario, a senhora, que não quis se identificar, disse que cobra R$ 5, como todo mundo, e no caso do turista, cobrou R$10 já prevendo a segunda troca do bilhete. Para quem trabalha no bairro e não quer se indispor com os flanelinhas para não ter o risco de encontrar o carro arranhando, uma das estratégias é tentar ficar “amigo”. Em alguns casos, os flanelinhas-amigos guardam as vagas e eles mesmos trocam os bilhetes para quem prefere deixar a chave. Para esse serviço, o valor é R$ 30 por semana, suficiente para um talão com 10 folhas de R$3.
Fonte: Diário de Pernambuco - Recife - 28/01/2017