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A reportagem especial do Fantástico do dia 15 mostrou como uma mistura explosiva, álcool e motocicleta, está tirando a vida de brasileiros. Sem preocupação com a própria segurança ou com a dos outros, eles bebem e pilotam motos pelas ruas e estradas do país. O problema é mais grave no Nordeste. A vida por um fio sobre duas rodas: os números comprovam. A morte chega na velocidade da imprudência, do desrespeito às leis e da falta de fiscalização. O Brasil vive uma epidemia gerada por uma mistura mortal: álcool e motocicleta.
Todo fim de semana é assim: o vaqueiro Moisés Mesquita se encontra com os amigos para beber umas pingas e, no caminho de casa, ainda costuma parar para tomar a saideira.
Fantástico: Você está em condições de dirigir?
Moisés Mesquita: Daqui até o Rio de Janeiro. Só tomei três doses.
Fantástico: O senhor tem habilitação?
Moisés Mesquita: Não tenho, não. A leitura é pouca.
Já se foi o tempo em que Moisés trabalhava como Zé Nilton, um dos poucos vaqueiros nordestinos que ainda se vê em cima de um cavalo no interior de Sergipe. Atualmente, a maioria deles não quer nem saber do animal.
Nos pastos do sertão nordestino, a paisagem mudou. Agora, o gado é tocado de cima da moto. A justificativa é que a gasolina é mais barata.
As concessionárias de moto nunca venderam tanto como nos últimos dez anos. Em 2001, a frota brasileira era de pouco mais de 4,6 milhões de motos. Hoje, passa de 18 milhões, quatro vezes mais.
O Nordeste é o maior mercado consumidor. No ano passado, comprou 35% das motos vendidas no país. Três estados lideram o ranking de mortes envolvendo motocicletas. No Rio Grande do Norte, correspondem a 42% das vítimas. Em Sergipe, 44%.
Mas é no Piauí que os números denunciam a tragédia: os motociclistas representam quase a metade das pessoas que morrem no trânsito. "Em grande parte, quase 90% dos acidentes com moto que chegam ao hospital, o álcool está envolvido. Não há dúvida", afirmou o neurocirurgião Daniel França.
É no fim de semana, entre a noite de sexta-feira e a madrugada de segunda-feira, que os acidentes se multiplicam no Piauí. Na região norte de Teresina, em uma rua que concentra muitos bares na calçada, tem muita moto também. Muitos nem disfarçam: em cima da mesa, estão garrafas, copos cheios e capacetes.
Em Teresina, as barreiras da Lei Seca não assustam ninguém. Basta circular nos bairros da boemia da cidade para comprovar. À 1h30 da madrugada, em uma área movimentada da noite de Teresina, só em um pedaço da rua havia mais de 300 motos estacionadas. Os donos estavam em uma festa.
No Piauí, em média, três pessoas morrem por dia vítimas de acidentes com motos. No pronto-socorro de Teresina, o neurocirurgião Daniel França passou três anos desenvolvendo uma pesquisa com os pacientes. A conclusão é estarrecedora: "Os nossos números mostram que, dos pacientes vítimas de trauma de crânio que chegam ao Hospital de Urgência de Teresina, que é o hospital que drena todas as urgências do Piauí e parte do Maranhão, quase 70% são por acidentes de moto. Então, é uma média 700% superior à média mundial".
O neurocirurgião José Weber, da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, desenvolveu um estudo para avaliar os efeitos da ingestão de álcool no cérebro. "Na medida em que a pessoa ingeriu o álcool, ela perde a capacidade de frear, de responder em tempo hábil. O tempo de resposta dela, que era para ser em torno de 0,75 segundos, vai para 2 segundos, 3 segundos. Então, ela está sujeita a um acidente", explicou.
Não há estatísticas de acidentes com motos na zona rural do Piauí. O que se sabe é que, na maioria dos casos, as vítimas estavam alcoolizadas. Basta visitar algumas comunidades para entender melhor o problema. A concentração de motos perto de bares da roça, em uma tarde de domingo, é grande.
Mossoró, a maior cidade do interior do Rio Grande do Norte, proporcionalmente, tem a maior frota de motos do Brasil. Em cada quatro moradores, um é motociclista. E como no Piauí, na maioria dos acidentes, as vítimas estavam alcoolizadas.
Grave também é a liberdade que os motociclistas encontram nas ruas para cometer imprudências, em um estado que sequer sabe o tamanho da sua frota.
A cada dez motos que rodam no estado, sete são irregulares. Estes dados são do próprio Detran do Piauí, que tem apenas 25 fiscais para cobrir 224 municípios, incluindo a capital. Há quatro meses, a fiscalização foi suspensa. Um dos motivos é que o pátio que guarda veículos apreendidos não tem mais espaço para receber motos irregulares.
O Ministério da Saúde reconhece que o Brasil vive uma epidemia de mortes no trânsito. "Uma parte importante dos óbitos por moto, quase 80%, é de pessoas entre 15 e 39 anos", afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Fonte: programa Fantástico (Rede Globo), 15 de janeiro de 2012

Categoria: Geral


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