Os serviços de valet respondem a uma necessidade de comodidade dos motoristas/usuários no acesso final a um destino desejado.
O objetivo principal da pessoa é ir ou chegar a um destino pretendido, dirigindo o seu automóvel. Entregar o veículo a um manobrista de valet não é um objetivo, mas uma condição acessória. Que poderia ou não ser usada. Sem prejuízo do objetivo principal que é o acesso ao destino, seja um restaurante, um shopping center, uma loja de rua, um hotel etc.
É sempre necessário considerar que na logística e movimentação das pessoas há sempre um trajeto inicial e final a pé.
Para o motorista que chega ao local desejado e entrega o carro a um manobrista não parece haver diferenças entre os serviços. Para ele, está usando serviços de valet.
Para o operador, como para o Poder Público, há grandes diferenças.
Alguns serviços são inteiramente privados, caracterizando-se - basicamente - como uma atividade de estacionamento do veículo para o seu proprietário na garagem da própria unidade de destino. É, por exemplo, o caso de hotéis, flats ou pequenos ou médios centros de eventos, com garagem própria. O veículo recebido pelo manobrista não sai para a via pública.
São operados, mediante contratos, com empresas formais, ligados ao SINDEPARK, com cobertura de seguros e outros requisitos.
Para o operador, é um serviço de estacionamento em uma garagem, com a extensão de recebimento e entrega do veículo ao motorista.
O mesmo ocorre com os serviços VIP em shopping center e outros estacionamentos de grande porte. Nesses, o motorista - em geral - tem a opção do autosserviço ("self-parking").
Já os serviços de valet em lojas, restaurantes ou bares localizados de frente para vias públicas utilizam o espaço público para o recebimento e entrega dos veículos e para o trânsito do veículo até o estacionamento. Em alguns casos também para o estacionamento daquele na própria via pública.
Em geral, não são operadoras de garagens e contratam vagas com essas. Para essas, a atividade principal é o recebimento e entrega dos veículos. O estacionamento é uma condição complementar. Por essa razão, poucos são os operadores de estacionamentos assumindo a atividade de valet para "imóveis de rua".
Por utilizar o espaço público, a atividade está sujeita a regulação pública.
Mesmo o serviço estritamente privado está indiretamente sujeito à regulação, pelas exigências do número de vagas por m2 construído. O que garantiria, em tese, a existência de vagas suficientes para atender a toda demanda ao imóvel. O que nem sempre é verdade.
Edificações onde ocorrem eventos têm picos de demanda para os quais a oferta fixa de vagas é insuficiente, gerando a necessidade de uso de espaços públicos, seja para a movimentação dos veículos como para o seu estacionamento.
O problema maior está nas lojas e casas de alimentação, de frente para a via pública, cuja construção - em geral - não previu uma quantidade de vagas adequadas para a demanda. Algumas vezes é a transformação de um imóvel residencial em comercial.
Uma condição inicial para enfrentar o problema estaria na exigência de oferta de vagas quando da construção ou reforma ou do alvará de funcionamento.
A exigência de oferta de vagas no próprio imóvel poderia inviabilizar a sua construção ou reforma. Principalmente essa segunda situação.
Os polos de compra não decorrem de um planejamento, mas de uma evolução natural, não determinística. Existem polos que deram certo, como os da José Paulino, 25 de Março, João Cachoeira, e outros que não deram certo ou entraram em decadência, como os do Centro tradicional.
Os polos gastronômicos também não decorrem do planejamento urbano. Seguem a lógica de algum estabelecimento que deu certo e atrai outros. Evidentemente, dentro de um contexto, mas no mesmo bairro ou zona, há ruas onde dão certo e outras, vizinhas, onde não dão certo.
Como não decorrem de uma ordenação planejada, a demanda vai se acumulando, sem uma provisão de oferta. E que também não cresce com o aumento da demanda.
Numa cidade onde o índice de motorização é crescente, para o comerciante a oferta de estacionamento para o seu cliente é um fator essencial de competitividade. Se não propiciar essa condição, não consegue atrair, tampouco manter a sua clientela.
A utilização dos serviços de valet é, para esses comerciantes, a solução. Que decorre menos da regulação e mais das exigências específicas do mercado.
A criação e disseminação dos serviços de valet junto a lojas, casas de alimentação e outras unidades de comércio "de rua" decorrem das distorções do uso e ocupação do solo.
Sem partir de uma revisão de paradigmas a esse respeito, as medidas de regulação ou controle serão meros paliativos.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.