Operador da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Marcelo Oliveira da Silva, de 36 anos, trabalha no topo de um prédio de 21 andares na esquina da Avenida Paulista com a Alameda Casa Branca.
Das 7 horas às 13h30, ele mede a extensão dos congestionamentos no horário de pico, fica atento a acidentes e calcula a velocidade média dos veículos que passam pela via. A seu lado, apenas máquinas do sistema de ar condicionado, exaustores e canos de diversas espessuras.
Apoiado em uma mureta de 1 metro de altura, sente o vento frio que sopra sem parar. Silva é um dos 76 operadores destacados pela CET para monitorar o tráfego nos Postos Avançados de Campo, os chamados PACs, localizados em 31 prédios públicos, comerciais e residenciais espalhados por pontos estratégicos de São Paulo.
Silva, que observa a cidade do alto há quinze anos, não usa o uniforme tradicional dos fiscais de trânsito, que lhes confere o apelido de marronzinhos. Trabalha de calça jeans, boné e jaqueta de lona amarela. Tem sempre um binóculo na altura dos olhos.
"Qualquer ocorrência, aviso à central da CET por celular e logo depois confirmo os dados por meio de um palmtop", explica.
É um trabalho crucial. Em vias de grande fluxo, uma simples faixa de rolamento interditada por quinze minutos ocasiona 3 quilômetros de tráfego lento. Assim que recebem as informações de Silva e de outros operadores, técnicos da CET podem acionar marronzinhos da área, a Polícia Militar ou até mesmo o Corpo de Bombeiros.
"Para avaliar os congestionamentos diários, esses fiscais são muito mais eficazes que um helicóptero, por exemplo", afirma Roberto Scaringella, presidente da CET. "E o custo é bem menor."
A companhia não paga nada para instalar seus funcionários no topo dos prédios. Os marronzinhos que trabalham nos PACs fazem turnos de seis horas. O primeiro começa às 7 horas e o segundo, às 13 horas. Em cada prédio fica apenas um observador. Como atuam sozinhos, avisam sempre que deixam seu posto.
Para irem ao banheiro, digitam 099 no palmtop. Já o número 098 é a senha para os trinta minutos diários de lanche. "Você está isolado, mas se comunica o tempo todo com a empresa", diz Silva. Se começa a chover forte, esses fiscais precisam parar de trabalhar.
"É perigoso, porque os pára-raios são instalados nas muretas de onde observamos o trânsito." Apesar de estar numa posição estratégica, Silva garante que jamais flagrou uma cena indiscreta nos prédios vizinhos. "Não dá tempo e seria invasão de privacidade.
"Sua pior lembrança é de quando teve de relatar um corpo estirado no chão, próximo à Avenida São João. "Na hora, não conseguia identificar se era um atropelamento ou suicídio", lembra. "Só depois fiquei sabendo que o homem havia se jogado do Viaduto Santa Ifigênia."
Fonte: Revista Veja São Paulo (São Paulo), 20 de junho de 2007