Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), o Nordeste já tem 2,1% a mais de área bruta locável (ABL) do que o Sul, com 1,74 milhão de m2, mas ainda perde em número de empreendimentos em operação, com 62 contra 83, e em receita. Em 2012, as lojas instaladas nos shoppings sulistas faturaram R$ 19,1 bilhões, ante R$ 14,4 bilhões nos nordestinos e R$ 119,5 bilhões no país todo. Só no Sudeste a cifra chegou a R$ 70,6 bilhões, conforme a entidade.
Mas a curva tende a mudar. Se de janeiro de 2007 a julho deste ano os nove Estados do Nordeste abriram três shoppings a menos que no Sul (20 contra 17), daqui para frente a região tem uma programação mais robusta de inaugurações. São 15 novos empreendimentos com 420,4 mil m2 de área locável previstos até o fim de 2014, enquanto Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná devem abrir 8, com 198,9 mil m2 de ABL.
"Em quatro anos o Nordeste vai ultrapassar ou pelo menos empatar com o Sul (em número de shoppings)", prevê o presidente da Abrasce, Luiz Fernando Veiga. Os números da entidade consideram somente empreendimentos com administração centralizada, lojas locadas, ABL mínima de 5 mil m2 e estacionamento. Em agosto havia 467 unidades deste tipo em operação no país, incluindo 9 inauguradas até julho de 2013 - uma das quais no Sul e outra no Nordeste.
A Associação dos Lojistas de Shopping Centers (Alshop) usa um critério mais amplo e calcula que no fim de 2012 havia 828 empreendimentos em operação e 157 em construção no país, a maior parte para abrir em meados de 2015. A tendência, entretanto, se mantém. Entre os novos, 30 estão programados para o Nordeste e 17 para o Sul. As estatísticas da associação incluem ainda estabelecimentos como galerias, atacados e centros de compras especializados por segmento de varejo, diz o diretor de relações institucionais da Alshop, Luis Augusto Ildefonso da Silva.
Conforme Veiga, a expansão do setor segue o caminho do crescimento da economia nas diversas partes do país. "A classe emergente está preponderantemente no Nordeste", afirma. Segundo os censos de 2000 e 2010 do IBGE, a renda média da população com dez anos ou mais e algum rendimento na região subiu 108,1% no período, contra 94,7% no Sul. A diferença entre os valores médios ainda é favorável ao Sul (R$ 1.282 contra R$ 805), mas o número de pessoas com rendimento no Nordeste cresceu 33% entre os dois censos, para 25,5 milhões, ante 27% - para 16,6 milhões - no outro extremo do país.
As características da renda explicam o perfil de consumo mais "popular" no Nordeste, com tíquete médio menor do que no Sul, explicam os executivos do setor. Em compensação, há mais gente para gastar e os custos de implantação dos shoppings são mais baixos, especialmente por conta dos terrenos mais baratos, e ainda há espaço e boas oportunidades nas capitais. Já no Sul os novos projetos começam a se focar nas regiões metropolitanas e no interior, pois as capitais estão bastante "adensadas" de empreendimentos.
Tomando como base a estimativa de população para este ano divulgada semana passada pelo IBGE, Porto Alegre tem 1,488 milhão de habitantes, o que corresponde a 93 mil pessoas para cada um dos 16 shoppings em operação na cidade, conforme a Abrasce. É a maior densidade de empreendimentos por habitante entre as capitais brasileiras. Em Florianópolis e Curitiba a relação fica um pouco acima de 150 mil pessoas por shopping, mas nas capitais nordestinas o número parte de 142 mil em Natal, passa de 240 mil em Salvador, Fortaleza, Recife, São Luís e João Pessoa e chega a 836 mil em Teresina, onde até agora há só um empreendimento em operação.
"O Nordeste é a bola da vez", reconhece o presidente da Associação Gaúcha para o Desenvolvimento do Varejo (AGDV), Vilson Noer. Segundo ele, os lojistas podem recuperar em três e quatro anos os investimentos feitos em novos shoppings nas capitais da região, enquanto em Porto Alegre esse período vai facilmente a cinco anos devido à "saturação" de empreendimentos e à superoferta de opções para os consumidores. Além disso, em geral os lojistas encontram condições "mais favoráveis" em termos de custos de ocupação quando migram para praças ainda pouco exploradas, afirma Noer.
Investimentos somam quase R$ 5 bi
Os investimentos no mercado de shopping centers no Nordeste devem se aproximar dos R$ 5 bilhões nos próximos dois anos, segundo apurou o Valor. O surgimento da "nova classe média" é o principal motor dessa expansão, mas a disponibilidade de terrenos e a mão de obra mais barata também são fatores favoráveis aos novos projetos, apontam empreendedores nordestinos.
Atentas às oportunidades, muitas construtoras locais começam a apostar no segmento, caso do grupo cearense Marquise. Com experiência nos setores residencial, comercial e de infraestrutura, a empresa está construindo um shopping em Fortaleza e outro em João Pessoa, que vão consumir R$ 380 milhões.
Está prevista para outubro a inauguração do Shopping Parangaba, no lado oeste de Fortaleza, em parceria com a Aliansce, uma das maiores administradoras do setor no país. Voltado ao público das classes B e C, o empreendimento fica em frente a um dos terminais de ônibus mais movimentados da cidade. O grupo Marquise também está construindo o Shopping Intermares, direcionado aos consumidores das classes A e B de João Pessoa.
De acordo com a diretora do grupo, Carla Pontes, apesar de algumas áreas já estarem suficientemente ofertadas de empreendimentos, as capitais nordestinas ainda dispõem de terrenos e de demanda para abrigar novos shoppings, diferentemente do que se vê nas principais cidades das regiões Sul e Sudeste.
Conhecer as preferências locais é fundamental no processo de expansão dos shoppings no Nordeste, observa Carla Pontes. Como exemplos, cita o menor tíquete médio na região, os estacionamentos, que devem prever mais motocicletas, e os atrativos de lazer, que têm de oferecer uma alternativa convincente às praias. "O desafio é saber aproveitar a oportunidade implantando empreendimentos que se adaptem às diferenças culturais", afirma.
Fonte: Valor Econômico (SP), 2 de setembro de 2013