Conforme a Gazeta, muitas respostas para o problema do trânsito nas grandes cidades estão na falta ou ineficiência de investimentos em transporte público. Desde a década de 60, a cidade de São Paulo já teve oito planos para tratar da questão, porém nenhum deles foi implementado na sua totalidade. As obras do metrô, por sua vez, seguiram muito lentamente. Foram construídos, em média, 1,5 km por ano. Dos 400 km previstos para serem construídos em 20 anos, foram feitos apenas 60 km.
Apesar de reconhecerem o problema do trânsito, que segundo pesquisa do Datafolha é considerado ruim ou péssimo por 87% dos paulistanos, parcela significativa da população ainda resiste a qualquer restrição no uso do automóvel: 44% não concordam com a ampliação do rodízio para dois dias por semana e 74% refutam a proposta do pedágio urbano.
Para o arquiteto Luiz Antonio Cortez Ferreira, a consciência tem que avançar muito em termos de mobilização social. "Estabelecer um estado que dê pleno conforto a todos já não basta. É preciso garantir que as próximas gerações tenham condições de continuar usufruindo desse pleno conforto. O legislador ou ocupante do cargo executivo responde às demandas da sociedade que precisam ser mais sofisticadas", ressalta.
A crise de mobilidade já começa a ser considerada também pelas indústrias automobilísticas. Estudo da consultoria da Ernst & Young, feito com base na opinião de 70 empresários e analistas, revela que a pressão de consumidores pode inviabilizar o modelo de negócios atual das companhias do setor. Assim como aconteceu com o cigarro, o carro pode passar de ícone a objeto de repúdio. O risco representa uma oportunidade para as empresas que avançarem na área de tecnologias limpas.
Para Ferreira, a solução dos problemas relativos ao transporte urbano não é só uma questão de investimentos. "Exige também uma mudança na nossa maneira de viver. Pensar na sustentabilidade, pensar nas gerações futuras, que não sejam simplesmente meus filhos e netos, significa tomar agora decisões que podem ser prejudiciais. A decisão mais fácil e a mais prática, certamente, não é a que pensa na geração futura", ressalta.
Fonte: Gazeta Mercantil (SP), 20 de maio de 2008