A média é de seis óbitos por dia, superior às 4,2 mortes registradas por dia nos primeiros cinco meses do ano. O número de mortes é o dobro dos três últimos feriados de Corpus Christi no Estado e o maior entre os cinco últimos feriadões, incluindo Natal e Ano Novo. Segundo o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), a imprudência foi a causa principal dos acidentes.
Ao longo do ano, as estatísticas revelam que houve 650 mortes no trânsito gaúcho até maio. Mais da metade delas em estradas, segundo informações do Departamento de Trânsito (Detran) do Estado. Se continuar nesse ritmo, o trânsito gaúcho deve registrar 1.560 vítimas em 2010 - em 2009 foram 1.430.
Mortes no trânsito gaúcho
2010 - 1.530*
2009 - 1.430
2008 - 1.423
2007 - 1.403
*projeção
Fonte: Detran/RS
Na RS-020, na região metropolitana de Porto Alegre, um choque frontal - pior tipo de acidente entre veículos - teve entre suas vítimas uma criança de um ano e quatro meses, que estava sendo levado à capital para se submeter a uma cirurgia de hérnia. Segundo o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), é o terceiro acidente com morte no mesmo trecho em 15 dias, somando nove mortes nesse período.
"É imprudência. Os veículos nem vinham em alta velocidade, mas provavelmente a falta de perícia em uma ultrapassagem provocou a tragédia", relata o comandante Edar Machado, do CRBM. Ele disse que o acostamento estreito pode ter contribuído para o desastre.
Para Machado, a elevação da frota de veículos também contribui para o aumento de ocorrências. O Rio Grande do Sul é o quarto Estado com mais veículos automotores no país: 4,8 milhões para uma população de 10 milhões de habitantes. Em dez anos, a frota praticamente dobrou.
Em número de mortes no trânsito, entretanto, o Estado é segundo lugar nas estatísticas - atrás apenas de São Paulo. Caxias do Sul, segunda maior cidade do Estado, ampliou sua frota em 62% nos últimos oito anos, segundo dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito). Em Porto Alegre, a evolução foi de 35%. Em muitos casos, os veículos estão mal conservados e sem manutenção.
Frota de veículos RS (em milhões e percentual)
1998 - 2,78
1999 - 2,90 (4,3)
2000 - 3,04 (5,0)
2001 - 3,21 (5,4)
2002 - 3,36 (4,8)
2003 - 3,54 (5,3)
2004 - 3,72 (6,2)
2005 - 3,91 (5,7)
2006 - 4,09 (5,4)
2007 - 4,33 (6,6)
2008 - 4,61 (7,3)
2009 - 4,88 (6,7)
Fonte: Detran/RS
Segundo o Detran gaúcho, o RS recebeu uma média de 750 veículos novos por dia durante 2009. No ano passado, a frota aumentou em 270 mil unidades. Nos dois primeiros meses de 2010, esse volume bateu em 40 mil - 4,7% a mais que no mesmo período de 2009.
Jovens no volante
O dado mais alarmante, entretanto, está relacionado aos jovens: 21% das mortes envolvem pessoas entre 18 e 24 anos. Entre os feridos, esse percentual sobe para 32%. Oito entre cada dez são do sexo masculino.
A presidente da Fundação Thiago Gonzaga, Diza Gonzaga, diz que a má educação para o trânsito começa com um ano de idade, quando as crianças veem, do banco de trás, os pais furando sinal vermelho ou desrespeitando faixas de segurança.
A Fundação, que leva o nome do filho da presidente morto em acidente de trânsito aos 18 anos, realiza campanhas de educação de crianças e adolescentes. "Está faltando exemplo para nossos jovens. Quando um pai está bebendo ao volante na presença dos filhos não sabe o mal que está causando", diz a educadora.
O diretor-presidente do Detran, Sérgio Filomena, acredita que se trata de um fenômeno de comportamento. "Os condutores têm mostrado competência e conhecimento ao fazer a habilitação, mas depois tomam atitudes muito diferentes quando estão no trânsito", diz.
Segundo ele, a solução deve passar necessariamente pela escola, com a adoção de programas educativos desde os primeiros anos de ensino. Segundo Filomena, a principal causa de acidentes nas estradas gaúchas continua sendo a velocidade. Em segundo lugar, a imprudência.
"É diferente de imperícia. Os motoristas estão sendo bem formados, mas quando estão no trânsito, por uma questão de falta de educação, acabam desrespeitando as leis", destaca.
O professor Mauri Panitz, especialista em trânsito, também atribui o aumento da violência no trânsito a um excesso de motorização. "Não temos infraestrutura para suportar um índice de dois habitantes por carro. É demais", lamenta o especialista. Para o professor, outros fatores como a associação entre direção e bebida e a publicidade excessiva nas estradas contribui para o aumento das estatísticas.
Segundo estudo elaborado pelo Departamento de Estradas do Rio Grande do Sul (Daer), o custo social dos acidentes em solo gaúcho entre 2006 e 2008 alcançou R$ 450 milhões. O valor seria suficiente para recuperar 2.300 km de estradas estaduais no mesmo período.
Fonte: UOL Notícias, 9 de junho de 2010