Dali em diante, as empresas passaram a competir frente a frente - e, anos mais tarde, ao lado da compatriota Lamborghini - como fabricantes de alguns dos carros mais rápidos e prestigiados do mundo. Entre eles estava o Maserati Ghibli, apresentado no Salão de Turim de 1966 no estande da Ghia, o estúdio encarregado de desenhar suas linhas imponentes e de construir suas carrocerias. O autor do belo estilo? Um jovem de 26 anos, então quase desconhecido, chamado Giorgetto Giugiaro.
Batizado com o nome de um vento quente do deserto do Saara - tema já explorado pelo Mistral e seria mais tarde pelo Bora -, o Ghibli entrava em produção em março do ano seguinte. Era um cupê de 2+2 lugares, longo (4,57 m com distância entre eixos de 2,55 m), baixo e intimidador, com faróis duplos escamoteáveis, uma saliência central no capô dianteiro e a cabine próxima ao eixo traseiro. O emblema frontal do tridente associava-se ao da Ghia nas laterais. Havia dois tanques de combustíveis na parte posterior com capacidade total de 100 litros.
Embora concorresse com os mais nervosos Ferrari 365 GTB/4 Daytona e Lamborghini Miura, era um carro esporte luxuoso e confortável para longos percursos. Foi oferecido também como conversível, o Spyder, de 1968 em diante.
A exemplo do Daytona e do Miura, o Ghibli sobressaía pela técnica e o desempenho. Seu motor era um V8 de 4.719 cm³ de cilindrada com bloco de alumínio, duplo comando de válvulas nos cabeçotes, quatro carburadores Weber e lubrificação com cárter seco, que fornecia a potência de 310 cv a 6.000 rpm e o torque máximo de 47 m.kgf a 3.500 rpm. A origem nas pistas não podia ser negada: era uma derivação do motor usado pelo 450S, um dos últimos Maseratis de corrida. Os modelos Mexico e Quattroporte também o empregavam, mas com lubrificação convencional, de cárter úmido.
Não lhe faltavam predicados de desempenho: velocidade máxima de 265 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 6,6 segundos, na primeira versão, números que melhoravam para 280 km/h e 6,2 s na SS - o carro mais veloz de seu tempo, de acordo com a Maserati. Nessa evolução, lançada em 1970, o motor crescia para 4.930 cm³ (mediante maior curso de pistões) e ganhava 25 cv, chegando a 335 cv a 5.500 rpm com torque de 49 m.kgf a 4.000 rpm. O interior estava ainda mais conveniente, com itens como controle elétrico de vidros, volante regulável e revestimento dos bancos em couro.
Em um guia sobre carros exóticos do passado, publicado em 1985, a revista norte-americana Road & Track descreveu como era dirigir o Ghibli: "O V8 tem uma marcha-lenta imponente, com muito borbulhar das duas grandes saídas de escapamento. Mas, como no Ferrari Daytona, uma vez que as rotações comecem a subir, tudo parece se suavizar e se obtêm os sons e as sensações característicos de um motor com legado das corridas".
Em 1971 a Maserati era adquirida pela Citroën, que em dois anos tirou o Ghibli do mercado após 1.274 unidades produzidas, das quais 125 eram Spyders. Seu nome ressurgia em 1992 em um dos muitos modelos com motor biturbo que a empresa produziu entre os anos 80 e 90. Em 2014 a Maserati volta a denominar como o vento do deserto um sedã quatro-portas de menores dimensões que as do atual Quattroporte, com plataforma derivada da Chrysler.
Fonte: Best Cars, 30 de novembro de 2012