Poderá um morador das imediações da avenida Europa, nos Jardins (zona oeste de SP), sair de casa a pé, andar alguns metros e encontrar um lugar para tomar café? Ou, em nome da tranquilidade de uma das áreas residenciais mais valorizadas da cidade, os cafés devem continuar restritos a poucas ruas e acessíveis quase sempre apenas por carro? O dilema, que envolve muitos interesses e poderá mudar a cara de regiões tradicionais da cidade, está latente nos Jardins. A proposta de revisão da lei de zoneamento em discussão na Câmara prevê que vias como a avenida Europa e a rua Colômbia recebam estabelecimentos como restaurantes de até cem lugares e supermercados de médio porte.
Atualmente, só há permissão para a abertura de negócios como lojas e farmácias. A mudança proposta deixou contrariados moradores que temem o fim da tranquilidade nos Jardins.
A posição da prefeitura é que não haverá mudança nas ruas internas dos Jardins.
Mas, em corredores como a avenida Europa, sim. Os vereadores da base do prefeito Fernando Haddad trabalham para votar a lei em debate até o fim do ano. Enquanto isso não acontece, outro grupo de moradores e lojistas com negócios na área vem fazendo um lobby contrário ao dos vizinhos.
Eles apoiam a proposta da prefeitura e alguns defendem até a liberação de estabelecimentos maiores na área.
A crítica de que a ampliação do comércio vai trazer insegurança para as áreas residenciais ou vai prejudicar o meio ambiente não procede, dizem os moradores do grupo que quer mais comércio. "Muitos dos imóveis, por causa da restrição de uso, estão vagos. Isso só aumenta a insegurança", diz Gisele Rozenboim, que há mais de 50 anos mora na alameda Gabriel Monteiro da Silva. Sobre a cobertura vegetal, o grupo diz que mais de 90% das 75 praças da subprefeitura de Pinheiros são mantidas por comerciantes.
Estudos em regiões residenciais da cidade mostram que normalmente há mais árvores nas praças e calçadas do que nos lotes das casas.
Fonte: Folha de S. Paulo, 5 de julho de 2015