Nos jornais norte-americanos de 1927, a Graham Paige mostrava em um encarte o modelo 162, de tamanho médio, acabamento de luxo e bom conjunto mecânico. O grande diferencial é que o Graham Paige era o primeiro luxuoso produzido em série. Antes dele, era preciso comprar um conjunto motor, carroceria, e finalizar com itens de acabamento e segurança ao gosto do proprietário. Por isso, o processo de compra do novo veículo levava vários meses.
O Graham Paige 162, que marcou essa mudança, tinha motor seis cilindros em linha Dodge, que desenvolvia 65 cv de potência máxima. Interessante era o câmbio de quatro velocidades, com duas marchas para velocidades mais altas. Para melhorar seu desempenho e durabilidade, o motor tinha diferenciais como pistões de alumínio, lubrificação forçada e filtrada, bomba de combustível mecânica e um sistema de suspensão mais macio. O estilo era bastante semelhante ao das marcas tradicionais e também de suas rivais do segmento de luxo como a Franklin, Hupmobile e Auburn.
Em termos de conforto, o carro tinha janelas basculantes e o pára-brisa contava com um mecanismo de abertura que facilitava a ventilação. A trava das portas tinha um pino que avançava para frente, ao destravar.
Além do modelo Tudor 162 (forma mais simples para dizer two doors, duas portas, em inglês) de seis cilindros, também estava disponível a limusine com motor de oito cilindros em linha. Porém seu acabamento e carroceria poderiam ser modificados. Havia duas configurações cupê de dois lugares, que também recebiam customização. Os preços variavam entre US$ 860 e US$ 2.485.
1927: ano marcante para a Graham Paige
O ano de 1927 não foi marcante apenas pelo lançamento da linha luxuosa produzida em série. A Graham era uma aventura familiar no segmento automotivo, já que a empresa começou dedicada à produção de artefatos de vidro no início do século XX.
Seus proprietários, Joseph, Robert e Ray Graham, se aventuravam em modificar modelos Ford T em caminhões e outros veículos de carga. Na época, a Graham usava os motores Dodge, Continental e Weideley em seus veículos. Na prática, a Dodge tratava a Graham como uma subsidiária.
Em 1927 os irmãos Graham decidiram se consolidar e quebrar o vínculo com a Dodge. Compraram a Paige Detroit Motor Company e a Jewett Automobiles de uma só vez, por US$ 4 milhões. Apesar de continuarem comprando os motores Dodge, já não estavam mais vinculados à marca como antes, e passaram a vender seus modelos em uma rede de concessionários própria.
Salão de Nova York revelou a marca
Os fabricantes da época não contavam com a astúcia dos irmãos Graham, que roubaram a cena no New Work Automobile Show, realizado no Hotel Roosevelt em janeiro de 1928. O estande da marca era decorado com motivos medievais, e todos os vendedores, engenheiros e profissionais da marca vestiam roupas diferenciadas em tons de vermelho com o logotipo da legião Graham, o escudo da família. Essa jogada de marketing, que procurava associar a nova marca à tradição, diferenciou a Graham Paige de seus concorrentes, que tinham estandes comuns e equipe vestida no estilo sóbrio da época: terno, colete e chapéu.
Após o evento, os concessionários da marca inovaram ao mostrar os carros desmontados no showroom e também detalhar as inovações mecânicas, estratégia ainda não usada pelas outras marcas. Deu certo. Se em 1927, ano em que incorporou a Paige e Jewett, a Graham Paige vendeu 21.881 automóveis, no ano seguinte, após o Salão de Nova York, as vendas pularam para mais de 73 mil unidades. Uma jogada inteligente, mas que o passado apagou, como o brilho dos veículos Graham Paige.
Fonte: webmotors.com.br, dezembro de 2010