Começou a Conferência do Clima em Copenhague e os ambientalistas, com amplo apoio da mídia internacional, fazem muito barulho, como se - efetivamente - o destino do mundo fosse depender do que uma dúzia de autoridades públicas decidir.
Primeiramente - como diria uma ilustre personagem - eles não são tão poderosos assim. O poder real está com outros, nem sempre presentes nessa categoria de Conferências. E os governantes nem sempre os representam, embora tenham a sua atuação orientada ou restringida por aqueles.
Nem Barack Obama tem poder de controlar as grandes corporações multinacionais, de origem ou base norte-americana. O jogo real é de competitividade entre as empresas.
O único governante que tem efetivo poder é o chinês. Como o principal dirigente do PCC (o deles) dentro de um regime ditatorial e de um capitalismo de Estado.
Se nem os principais governantes mundiais (que supostamente seriam os "donos do mundo") têm o poder de tomar decisões para conter o aquecimento global, o que resta a nós, pobres mortais?
Podemos ter a ilusão do "estou fazendo a minha parte". O que é bom, mas absolutamente insuficiente.
O que pode ser a minha parte, como cidadão urbano ou gestor de estacionamentos?
Se o estacionamento está num ambiente fechado, dentro de um prédio ou de um edifício-garagem, reduzir a emissão de gases de efeito-estufa é pouco viável.
Já em terrenos, pode-se evitar a total impermeabilização do solo e também plantar árvores que "sequestram" carbono, além de proporcionar sombras para os carros estacionados.
No entanto, o que parece simples, ou seja, uma contribuição ambiental de quem quer fazer "a minha parte", pode virar uma grande "dor de cabeça".
Se a árvore for mal escolhida e plantada sem maiores cuidados, ao crescer desenvolve raízes que irão emergir do solo, quebrar a pavimentação e acabar tirando áreas de vagas. Se, diante desse desastre, o dono quiser retirar a árvore, terá um enorme trabalho para obter a licença. E sem tirar sem licença corre o risco de ser preso, sem direito a fiança.
Mesmo que não ocorra esse acidente natural, se pretender utilizar a área para uma construção, terá de assumir o compromisso de replantio ou de plantio de novas mudas em outro local para compensar a retirada.
As árvores, além de tomar espaço de vagas ou de manobras, podem causar danos aos automóveis estacionados, por queda de frutos, de galhos ou mesmo pelo tombamento.
Com todos esses riscos, para o dono do terreno talvez seja melhor deixar "a sua parte" para os "poderosos" resolverem em Copenhague.
Se nem eles se entendem, por que teria eu que tentar "salvar o planeta"?
Copenhague acaba se transformando numa desculpa para não fazer a "minha parte".
O radicalismo ambiental não oferece alternativas: é cem ou zero. Muitos acabam ficando no zero, porque o cem é inviável e não lhes são dadas alternativas intermediárias.
*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.