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Se a grande quantidade de carros por habitante é um indicador importante para medir os transtornos nas ruas, o hábito de usá-los para se locomover no dia a dia agrava o problema. A cultura do carro explica porque a população de capitais como São Paulo, Rio e Brasília, apesar de ter proporcionalmente menos automóveis do que a de cidades europeias, sofre mais com congestionamentos. A análise é do jornal Estado de S. Paulo.
"A cultura brasileira do carro é forte e isso acaba complicando o cotidiano das cidades. Na Europa, por exemplo, a população tem carro, mas o deixa em casa e dirige nos fins de semana", explica o americano Jonas Hagen, representante no Brasil do Institute for Transportation & Development Policy (ITDP).
Em Curitiba, cidade que lidera o ranking das capitais, o uso moderado do carro ajuda a diminuir os impactos no tráfego. Só 22% da população usa o automóvel no cotidiano, segundo dados do Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).
A proporção fica bem abaixo dos municípios da Grande São Paulo, onde 45% dos habitantes se locomovem por carros, de acordo com a pesquisa Origem e Destino do Metrô. "Assim como nas demais cidades, a situação em Curitiba piorou nos últimos anos. Buscamos investir em calçadas, ciclovias e em um sistema de transporte integrado para ajudar a desestimular o uso do carro", diz o presidente do IPPUC, Clever Teixeira de Almeida.
A capital paranaense tem hoje 81 km de canaletas estruturais para circulação de ônibus rápidos, mais de 100 km de ciclovia e investe preferencialmente na expansão das calçadas.
Morador da Mooca, em São Paulo, o administrador de empresas Francisco Violi afirma que a paixão por carros dos paulistanos decorre acima de tudo da necessidade do automóvel para se locomover. Violi é colecionador de carros antigos. Tem três DKWs e um Corcel, que só tira da garagem nos fins de semanas ou em viagens. No dia a dia, anda de picape.
Mesmo morando a 15 minutos a pé do metrô, ele justifica que caminhar é pouco convidativo. "Para pegar o metrô, teria de passar por áreas degradadas e perigosas. Há ainda os hipermercados e shoppings, atividades que acabam pedindo carro. Mesmo com congestionamento, basta colocar uma música dentro do carro e procurar relaxar."
Para Ronaldo Balassiano, professor do programa de engenharia dos transportes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a mudança da cultura do automóvel pede mais do que investimento em transporte coletivo. É preciso, por exemplo, restringir estacionamentos ou criar pedágios urbanos.
Balassiano cita o exemplo de Londres, que debateu a restrição de carros no centro por 25 anos antes de iniciar a cobrança de taxas para automóveis. O professor afirma também ser fundamental criar agências capazes de pensar em sistemas integrados inteligentes de transporte, além de regulamentar e fiscalizar os serviços. Ainda é necessário planejar em conjunto com municípios vizinhos. "Fala-se em investimento em transporte público como saída única. Mas o desafio é mais complexo. Mudar a cultura do carro é difícil, mas fundamental nas grandes cidades."
Terra do automóvel
Fazer parte da população migrar para o transporte coletivo é um desafio enfrentado por São Caetano do Sul, que tem o maior índice de carros por habitante. Berço de montadoras de automóveis, a cidade enfrenta um aumento contínuo na frota, embora a geografia não permita avanço no sistema viário. "Nós temos um problema com espaço, mas por outro lado é uma cidade onde todos são apaixonados por automóveis", diz o secretário da Mobilidade Urbana, Marcelo Ferreira de Souza.
Uma das tentativas da prefeitura é tentar manter baixa a tarifa de ônibus - R$ 1,30. Mas só isso não é suficiente, pois grande parcela da população tem alta renda. "Por isso vamos investir em um sistema com ônibus executivo, mesmo que a tarifa seja mais cara. É uma aposta para incentivar o transporte coletivo", diz o secretário.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 5 de setembro de 2010

Categoria: Geral


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