Mesmo que as duas nações cheguem ao fim do ano perto de um empate técnico, analistas do setor automotivo apostam que, a partir de 2011, o Brasil começará a se distanciar da Alemanha. Até o fim da década, deverá ser a terceira potência mundial em vendas, ultrapassando também o Japão.
De janeiro a julho, foram vendidos no Brasil 1,882 milhão de veículos, incluindo caminhões e ônibus. Na Alemanha foram 1,859 milhão. No ano passado, a diferença entre os dois mercados era de 908 mil unidades a mais para os alemães.
O país europeu sentiu mais os efeitos do fim dos subsídios governamentais para a venda de carros neste ano. A medida foi adotada em diferentes proporções por vários governos, inclusive o brasileiro, para amenizar os efeitos da crise financeira mundial entre fins de 2008 e 2009.
Hoje, o ranking mundial de consumo tem a China disparada na frente, com 10,2 milhões de unidades. Em segundo estão os EUA, com 6,6 milhões, e em terceiro o Japão, com 3,1 milhões. Estudo da consultoria internacional Roland Berger aponta que o Brasil chegará ao fim de 2010 como quarto principal mercado de veículos, com diferença aproximada de 400 mil unidades para a Alemanha. Nos sete meses do ano, o país europeu viu suas vendas caírem 27% em relação a igual período de 2009. O Brasil registrou crescimento de 8,5%.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, prefere não comemorar o salto no ranking antes do tempo. "A diferença para a Alemanha é pequena e muita água ainda pode rolar." Para ele, o importante é que o Brasil é um grande mercado e tem atraído novos investimentos.
As montadoras nacionais anunciaram investimentos de US$ 11,2 bilhões para os próximos dois anos. O valor inclui a construção de três novas fábricas, todas em São Paulo. Uma é a da japonesa Toyota, em Sorocaba; outra da coreana Hyundai, em Piracicaba; e a terceira da chinesa Chery, em Jacareí. O País abriga atualmente 18 montadoras de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, com 24 fábricas em vários Estados.
Crescimento
Entre os quatro grandes produtores mundiais, o Brasil foi o que cresceu menos neste ano, na comparação com 2009. Belini justifica que Japão e EUA vêm de bases muito fracas em 2009, pois ambos foram fortemente afetados pela crise de crédito. A China é o país que tem apresentado fôlego maior para crescimento sustentável em todos os setores econômicos, não só no automotivo.
O Brasil, por sua vez, cresce em cima de um mercado recorde no ano passado, resultado que será superado este ano. O País saltou de vendas de 1,25 milhão de automóveis em 1999, quando era 11º no ranking mundial, para um mercado de 3,14 milhões em 2009, quinto lugar na lista.
A Alemanha, no mesmo período, ficou estagnada em volumes. Com 4,1 milhões de unidades vendidas há uma década, era terceira no ranking. Em 2009, caiu para a quarta posição, com 4 milhões de veículos. Este ano deve descer mais um degrau, com vendas inferiores a 3 milhões de carros, segundo a Roland Berger.
O fenômeno China pulou de 1,8 milhão de carros vendidos em 1999 (7º no ranking) e assumiu o topo no ano passado, com 13,6 milhões. Os EUA, líder há dez anos, com 16,9 milhões de veículos, caiu para o segundo lugar, com 10,6 milhões. O Japão deixou o segundo lugar, com 5,8 milhões de unidades, e foi para o terceiro, com 4,6 milhões.
"O Japão é um mercado maduro, com indústria consolidada e 1,7 habitante por veículo, o que não permite muito crescimento, pois as vendas basicamente são para reposição", avalia o sócio da consultoria PriceWaterhouseCoopers, Marcelo Cioffi. Já o Brasil, diz ele, tem quase sete habitantes por veículo e grande capacidade de continuar crescendo. O cenário é ajudado pela estabilidade econômica, que gera empregos, renda e crédito farto.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 16 de agosto de 2010