A utilização indevida de telefone já é o principal motivo de distração ao volante. É responsável por três em cada dez acidentes de trânsito, conforme mostra uma pesquisa realizada pela seguradora Allianz nos setenta países onde atua. "O dado é global, mas retrata fielmente o que ocorre no Brasil", diz o diretor de sinistro da empresa, Laur Diuri. Faltam estatísticas locais sobre a questão. Sobram, entretanto, indícios de que o cenário não é diferente por aqui.
A popularização dos smartphones e dos apps fez surgir uma espécie de sentimento coletivo de urgência, como se cada ligação ou mensagem não pudesse esperar para ser respondida. No levantamento realizado pela Allianz, 40% dos motoristas entrevistados confessaram fazer ligações telefônicas sem usar o viva-voz. Os que admitiram ler mensagens de texto enquanto dirigem foram 30%.
E 20% assumiram escrever mensagens estando ao volante - no grupo dos condutores com idade até 24 anos, o índice foi ainda mais elevado: 25%. "É comum ver jovens publicando imagens de suas aventuras, ou melhor, dos delitos que cometem no trânsito", afirma Diuri. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, usar o telefone ao mesmo tempo em que dirige é uma infração média, que resulta em multa de 85,13 reais e 4 pontos na carteira de habilitação. Entre janeiro e junho, quase 40.000 belo-horizontinos foram multados por esse motivo - uma média de 215 autuações por dia. Trata-se da segunda infração mais frequente na capital, atrás apenas de excesso de velocidade. "O que os policiais conseguem registrar é muito pouco diante do que a gente sabe que acontece", diz a delegada Carla Cristina Vidal, da Delegacia Especializada em Acidentes de Veículos.
Boa parte dos que desrespeitam a lei escapa impune porque a multa depende da ação de agentes, diferentemente da alta velocidade, que é flagrada por radares.
Os motoristas tendem a subestimar o risco dos instantes gastos para atender um telefonema ou ler uma mensagem, mas os especialistas lembram que um pequeno intervalo de tempo pode significar a diferença entre atropelar ou conseguir frear antes de atingir um pedestre. "Distrair-se de quatro a cinco segundos na direção, a 100 quilômetros por hora, é como fazer de olhos fechados um percurso de 120 metros, o equivalente a uma fila de trinta carros pequenos", explica Dirceu Alves Júnior, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).
Fonte: Revista Veja (BH), 27 de agosto de 2014