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O governo tem incentivado a indústria e ajudado a vender veículos com isenções de tributos e estímulos à produção. O país transformou-se no quarto maior mercado consumidor de automóveis novos do planeta. A expectativa é que o setor, responsável por cerca de 20% do PIB industrial, cresça e gere receita ainda maior. A questão é: a falta de infraestrutura (e espaço), principalmente nos grandes centros, e a necessidade de reduzir a poluição urbana irão limitar essa expansão?
Para Luiz Moan, presidente da Anfavea (associação das montadoras), a relação de carro por habitante no Brasil ainda é baixa quando comparada à de outros países, como os EUA, Japão e até a Argentina. "É preciso pensar no uso racional do automóvel, integrando-o a outros meios de transporte", defende.
Para o executivo, o automóvel não é o vilão da mobilidade urbana, mas, sim, a falta de planejamento [das autoridades].

Folha - Quando observamos o trânsito nas grandes cidades, a primeira coisa a se pensar é: há muitos carros nas ruas. Isso é um fato?

Luiz Moan - O setor automotivo passou por uma grande expansão nos últimos 20 anos. Passou de 1,33 milhão de unidades anuais para 3,57 milhões em 2013. Se, por um lado, as vendas cresceram, temos de considerar que o índice de motorização é de um carro para cerca de seis habitantes - inferior ao que encontramos nos EUA, com 1,3 habitante por carro, na Europa, com dois habitantes por carro, e na Argentina, com três habitantes por carro. Temos potencial de crescimento.

Frequentemente, os automóveis são colocados no papel de vilões da mobilidade urbana. Como o senhor vê essa situação?

Sempre há a necessidade de achar um culpado, e até admito que falta ação da Anfavea no sentido de informar melhor sobre o assunto. Se considerarmos apenas os números, a cada 1.000 carros novos que chegam às ruas, 600 usados saem de circulação. Ou seja, o acréscimo não é tão grande. Pelo lado ambiental, se compararmos com 1994, hoje os carros emitem cerca de 90% menos. A indústria automotiva também gera recursos financeiros para o país. Em 2013, foram R$ 178 bilhões em impostos. Esse dinheiro poderia ser reinvestido em obras estruturais direcionadas ao transporte.

Se o carro não é o vilão, o que falta para termos uma mobilidade melhor nas cidades?

Falta incentivar o uso racional dos veículos. O carro precisa se integrar aos meios de transporte de massa. Isso não ocorre no Brasil. Uma medida relativamente simples, como a criação de grandes estacionamentos em terminais de ônibus e metrô, já evitaria que boa parte da população fizesse seu trajeto inteiro de carro. Em São Paulo, obras como o Rodoanel ajudaram a diminuir a frota de caminhões cruzando a cidade, mas faltam terminais de carga nas imediações. Melhoria da sinalização e da sincronia dos semáforos também são intervenções que ajudariam.

A adoção de faixas exclusivas em São Paulo beneficiou a circulação de ônibus, mas gerou um grande impacto. É possível adotar medidas que melhorariam o trânsito sem esse tipo de consequência?

A Anfavea apoia a criação de corredores e faixas exclusivas de ônibus. Infelizmente, não é possível fazer intervenções sem causar um grande impacto. A criação das faixas, por exemplo, foi uma medida emergencial. Se considerarmos que estão sendo feitos planejamentos mais globais, é algo aceitável. Inclusive, defendo que os táxis possam circular nessas faixas.

A Anfavea propõe que seja feito um plano para os próximos 50 anos sobre mobilidade urbana, incluindo a expansão do sistema de transporte público. Se o serviço melhorasse consideravelmente, a venda de carros não poderia ser afetada?

Não acredito que isso ocorra. Em várias cidades do mundo que adotaram meios de transporte público eficientes, o número de veículos vendidos não caiu. Como eu disse, tudo passa pelo uso racional do carro.
Fonte: Folha de S. Paulo, 14 de março de 2014

Categoria: Geral


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