Parking News

Debater mobilidade urbana no Brasil nos últimos anos vem ficando cada vez mais difícil. Não pela frequência com que se aborda o tema, que certamente aumentou, mas pelo jeito como se fala do assunto. A discussão ficou restrita a novas maneiras de se aperfeiçoar o sistema de transporte de ônibus, metrôs e trens. Mas, mais do que isso, é importante ponderar como esses meios podem, por exemplo, se interligar com o uso de automóveis, por meio da implantação de bolsões de estacionamentos.
De fato, o trânsito de pessoas nas grandes cidades, principalmente em São Paulo, melhoraria bastante com a ampliação de infraestrutura. Contudo, a frota de veículos na capital paulistana, que hoje é de 5,4 milhões de carros, não para de crescer e é preciso encontrar alternativas para evitar que os automóveis circulem por regiões mais movimentadas da cidade.
Tentando mudar a situação, o governo federal prevê investir R$ 50 bilhões no transporte público nos próximos quatro anos. Já o governo paulista deve injetar R$ 45 bilhões entre 2012 e 2015 e a Prefeitura, R$ 11,6 bilhões até 2017. A previsão de investimentos aumentou consideravelmente após os protestos de junho.
A Política Nacional de Mobilidade Urbana, sancionada em 2012, prevê que cada município tenha autonomia para definir suas próprias diretrizes em relação ao trânsito, incentivando os transportes coletivos e restringindo os individuais. O problema é que as restrições aparecem em velocidade muito maior que os incentivos.
Existem inúmeros detalhes despercebidos que poderiam fazer uma grande diferença e que não precisam, necessariamente, estar ligados à coibição do uso de automóveis particulares. Basta ver os vários exemplos que famosas metrópoles mundiais têm a nos oferecer.
Um dos melhores modelos vem da cidade de Paris, onde o tráfego também é intenso, mas flui graças, além de outras medidas, ao sucesso dos estacionamentos públicos, construídos ainda na segunda metade do século XX e entregues para empresas em regimes de concessão de até 30 anos. Durante todo o período, foram criadas 70 mil vagas na capital francesa em 124 estabelecimentos.
O raciocínio é simples: o carro em uma garagem não está estacionado na rua, tampouco está circulando com velocidade reduzida procurando um lugar para parar ou esperando um passageiro. Desse modo, as pistas laterais ficam sempre livres para o fluxo ou paradas breves - e o volume de veículos também se reduz.
A cidade de São Paulo já proporciona um serviço eficiente de estacionamentos, em que a maior facilidade para o usuário é poder guardar seu carro em local próximo ou no próprio destino. Em muitos lugares do mundo, até mesmo nos mais desenvolvidos, uma breve caminhada do estacionamento até o destino ainda faz parte da rotina dos motoristas. E, muitas vezes, eles ainda acabam pagando mais caro, como em Londres e Madri, mesmo contando com um transporte público muito mais eficiente que o nosso.
Mas, para reduzir efetivamente os congestionamentos, a oferta de estacionamentos precisa ser planejada de maneira inteligente, com garagens construídas próximas a estações de trens, metrôs e terminais de ônibus com integração tarifária com o transporte público. Isso só ocorre por meio de parcerias público-privadas que dependem de uma mudança de mentalidade de nossas autoridades no que diz respeito a veículos particulares.

Marcelo Gait, presidente do SINDEPARK

Categoria: Artigos


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