Parking News

Jorge Hori *

Começou o ano e, aparentemente, na cidade de São Paulo, sem os mesmos grandes problemas no trânsito.
Fluindo bem, sem grandes congestionamentos, o que indica uma condição abaixo do equilíbrio: há menos veículos circulando do que permite a capacidade de absorção do sistema viário. Como decorrência da saída da cidade de uma parte da população, em férias, nas praias e em outras localidades, assim como pela não movimentação para fins de estudo. Com exceção dos que estão prestando o vestibular da Fuvest.
Confirmando o fato de que o problema do trânsito não é de estoque, mas de fluxo. As vias existentes, assim como a frota de veículos, são ativos fixos, ou seja, estoque. A maior parte da frota tem um lugar numa vaga interna, dentro dos imóveis. Uma parte fica estacionada em vias púbicas. Essas são suficientes para dar vazão, sem maiores congestionamentos, a um fluxo reduzido, como o do período atual.
Quando essa frota é movimentada, concentrando-se nas mesmas vias, nos mesmos horários, ocorrem os congestionamentos. Agravados pelos acidentes que reduzem a capacidade de circulação nas vias onde ocorrem.
Com o final das férias os problemas voltarão, mas o quadro atual pode ser uma boa lição para a compreensão real das causas daqueles.

Novos prefeitos assumiram, reiterando promessas antigas e apresentando novas.
Em São Paulo retoma-se o processo de concessão de garagens subterrâneas, assim como dos estacionamentos de transferência, além da fiscalização dos estacionamentos irregulares, todas constantes do programa de Serra/Kassab na campanha de 2004 e avaliadas pela Folha de S. Paulo como não cumpridas.
Cabe aqui uma avaliação sobre porque essas promessas não são cumpridas. Quais são os obstáculos, os impasses que dificultam ou inviabilizam a sua consecução.
O processo das garagens subterrâneas no Centro tradicional se arrasta há muitos anos. Um primeiro estudo foi revisto mais de uma vez, com a definição dos locais, elaboração de projetos conceituais identificando os fluxos de entrada e saída e a capacidade de vagas.
Os estudos de demanda demonstraram a sua existência, ampliadas com a transferência de órgãos públicos para o Centro, a sua lenta mas persistente revitalização, visualizada - ademais - pelo volume de estacionamentos irregulares, usando lojas e agências bancárias desativadas, cobrando preços elevados para o estacionamento avulso, ao longo dos dias úteis.
Estabelecidas essas condições, por que não se efetivam?
Aparentemente por insegurança dos administradores ou por conflitos de posições dentro da própria administração municipal.
De um lado estão aqueles que veem o problema do lado da demanda: existe uma demanda desatendida que leva a soluções inadequadas, como os estacionamentos irregulares, a apropriação de vagas públicas pelos "flanelinhas", sendo, então, as garagens subterrâneas a solução para o atendimento de, ao menos, parte dessa demanda desatendida.
De outro lado estão os que defendem a total prioridade às ações e investimentos a favor do transporte público e se opõem a qualquer medida que favoreça a ampliação de demanda de automóveis no centro da cidade, ou mesmo em área de maior demanda. Entendem que as distorções são passageiras e que acabarão contribuindo para que as pessoas deixem o carro em casa e passem a utilizar um meio de transporte coletivo, para chegar ao seu local de trabalho, de estudo, de compras ou outras razões.
As autoridades maiores não conseguem tomar decisões diante dessa divisão de opiniões técnicas.
Mesmo prevalecendo a opinião favorável à construção das garagens - superando as resistências dos radicais defensores do transporte coletivo ou da preferência das ruas para os pedestres - dois outros impasses de opinião precisam ser vencidos.
Uma primeira opinião é de que estacionamento é um negócio altamente rentável e, dessa forma, estudam e discutem qual deve ser a contribuição do concessionário privado para ganhar a concessão. Uma das considerações é fazer uma licitação pela maior oferta do "ônus", ou seja, dos pagamentos para a Prefeitura.
O que os empresários do setor contestam, em função do achatamento da média, ao longo de 24 horas. Há uma demanda diurna, e os diversos estacionamentos irregulares atendem a mesma. Mas fecham por volta das 19 horas, prolongando-se, no máximo, até às 20 horas. Já as garagens subterrâneas precisariam ficar abertas 24 horas por dia, com prejuízos operacionais durante o período de vale. O Poder Público precisaria então aceitar a condição de um funcionamento parcial, com o fechamento noturno.
Ademais, há o risco da elevação dos custos dos investimentos em função das interferências. O que os empreendedores pedem é que o custo de remoção das interferências fique a cargo do Poder Público, caracterizando uma PPP e não uma concessão plena.
A não ser que um papel desses estacionamentos seja viabilizar ou promover a atividade noturna nas áreas próximas. A gastronomia e as "baladas". Além dos espetáculos, como no caso do Teatro Municipal e, eventualmente, em outras casas.
Isso leva a uma outra discussão, além da tradicional: atender a uma demanda reprimida ou desestimular essa demanda?
O que deve ser discutido é o papel estratégico das garagens subterrâneas, no caso a vitalização do Centro no período noturno.
Com a quantidade de teatros e peças em cartaz na cidade, pode-se pensar numa concentração, numa espécie de Broadway. Juntamente com cinemas e praças de alimentação.
Uma garagem subterrânea na região do Mercado não deveria servir apenas para atender a uma demanda diurna, mas viabilizar o funcionamento 24 horas do Mercado Municipal, ou ao menos o funcionamento noturno de sua praça de alimentação. Transformá-lo num "point".
Nesse caso, uma das alternativas é a urbanização da área lindeira, após a derrubada dos edifícios San Vito e seu vizinho. Com uma garagem subterrânea debaixo da praça.

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

Categoria: Fique por Dentro


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