Nos últimos três sábados, o jornal O Globo constatou o problema. No dia 1º, por exemplo, flanelinhas atuavam livremente na Presidente Vargas, com a cumplicidade de policiais do 5º BPM (Praça da Harmonia). Na via, fiscais da Seop rebocaram alguns carros que estavam parados em locais proibidos. Um dos flanelinhas tentava convencer o dono de um veículo a estacionar na faixa de pedestre, da qual um carro acabara de ser retirado por um reboque. Antes disso, este mesmo flanelinha foi flagrado pela reportagem do Globo conversando com um policial militar, próximo à esquina da Rua Miguel Couto com a Presidente Vargas. Em seguida, ele correu por cerca de cem metros até chegar próximo à esquina da Presidente Vargas com a Rua Uruguaiana, onde passou a atuar sem ser incomodado.
No último dia 24, eram oito flanelinhas atuando e apenas uma pessoa com o colete. Todos estavam no trecho da Avenida Rio Branco entre a Presidente Vargas e a Almirante Barroso. "Os flanelinhas chegam bem cedo, por volta das 6h, nas avenidas Rio Branco e na Presidente Vargas e expulsam os guardadores do Vaga Certa, que já não é um primor de serviço. São marginais e coagem as pessoas que buscam estacionar", disse Alex Costa.
Já na Avenida Presidente Vargas, a apenas uma quadra do prédio do Detran, o guardador com o colete do programa Vaga Certa disse que para estacionar era preciso pagar R$ 2 pelo talão e mais uma "moralzinha" de R$ 5.
O mapa da irregularidade nas ruas do Centro inclui também o entorno do Theatro Municipal, na Cinelândia, nas noites de festa e espetáculos, onde os flanelinhas chegam a cobrar R$ 20 por uma vaga. A área fica dentro do perímetro de atuação da Unidade de Ordem Pública (UOP) do Centro. Durante a semana, após às 19h, a esquina da Rua Almirante Barroso com a Avenida Rio Branco é outro ponto onde os motoristas são extorquidos.
O custo do combate à desordem
Com um investimento de aproximadamente R$ 11 milhões para cada Unidade de Ordem Pública (UOP), a segurança na cidade do Rio de Janeiro tem custado caro aos cofres públicos. As unidades têm como objetivo conter a desordem urbana e coibir a ação de flanelinhas e camelôs. Elas contam com um efetivo próprio de guardas municipais. Para ajudar no trabalho, eles utilizam smartphones para multar, flagrar as irregularidades e entrar em contato também com outras secretarias municipais. A primeira UOP foi inaugurada em abril, na Tijuca. A unidade abrange uma área de 600 mil m2 no entorno da Praça Saens Peña e vem atuando de forma severa no bairro. O contingente de guardas já aplicou 23.087 multas, somente entre abril e setembro, a maioria por estacionamento irregular.
Seop diz que flanelinhas formam quadrilha
O secretário especial de Ordem Pública, Alex Costa, alega que a presença reforçada de guardas municipais da Unidade de Ordem Pública (UOP) do Centro inibe os flanelinhas. Mas acrescenta que, para enfrentar o problema, é preciso que seja caracterizada a formação de quadrilha. Com esse objetivo, agentes da prefeitura chegaram a realizar filmagens para registrar a ação dos criminosos. Os reboques a serviço da prefeitura têm atuado nas ruas do Centro para coibir, principalmente, o estacionamento irregular. O secretário apela à população para ajudar a combater os flanelinhas.
De acordo com a secretaria, o Choque de Ordem já retirou das ruas 1.297 flanelinhas desde 2009, por exercício ilegal da profissão. Deste total, 92 flanelinhas foram detidos atuando no Centro. Ele informou que 3% dos flanelinhas eram foragidos da polícia, e que 70% tinham passagens pela polícia. Por formação de quadrilha, houve 13 prisões, sendo cinco no Leblon, duas na Quinta da Boa Vista e seis em São Cristóvão. Nestes casos, as vítimas foram até a delegacia prestar queixa.
Fonte: O Globo (RJ), 3 de outubro de 2011