Parking News

Durou pouco a política de tolerância zero para motoristas embriagados. Três anos e três meses após a entrada em vigor da lei 11.705 - a Lei Seca -, é cada vez menor o número de condutores que a respeitam em São Paulo. Por quatro noites, sempre às sextas-feiras e sábados, Época São Paulo percorreu as principais zonas boêmias da cidade e convidou 100 motoristas recém-saídos de bares ou baladas a fazer um teste do bafômetro. O resultado: 79 estavam alcoolizados.
Se fossem parados numa blitz de verdade, 43% desses condutores seriam beneficiados pelo limite de tolerância, de 0,13 mg/l (miligramas de álcool por litro de ar expelido), enquanto 57% seriam multados e teriam a habilitação suspensa. Um em cada quatro não apenas perderia temporariamente o direito de dirigir como seria encaminhado à delegacia mais próxima, com alcoolemia suficiente para configurar crime (superior a 0,33 mg/l). Em um dos casos, o índice chegou a 0,79 mg/l, seis vezes o máximo tolerado.
São muitas as explicações dadas por quem ainda dirige alcoolizado. Morar perto foi uma justificativa recorrente. A maioria disse confiar na própria capacidade de manter o controle. "Quanto mais louco eu estou, mais devagar vou", disse um motorista, com 0,43 mg/l. Mesmo quando os testes tiveram resultado negativo, houve quem dissesse ter tomado um chope ou duas taças de vinho. Nesses casos, o alimento ingerido ou o tempo decorrido desde o último gole contribuem para anular a presença do álcool. Raro foi encontrar quem tivesse abdicado do copo.
Em geral, os motoristas sabiam que estavam infringindo a lei e até preocupavam-se com a fiscalização - mas só um pouco. "Tenho medo de cair numa blitz, mas não o bastante para deixar de dirigir; não sou obrigada a soprar o bafômetro", disse uma motorista, com 0,66 mg/l. "Mudo de caminho, mas não de atitude", disse, com 0,23 mg/l, a estudante A. R.
Quando criada, em 2008, a Lei Seca tinha como principal objetivo mudar o comportamento dos motoristas. Na prática, não foi o que aconteceu. Uma enquete com mil pessoas realizada em setembro pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS) a pedido de Época São Paulo mostra que apenas 34,8% dos paulistanos deixaram de dirigir após consumir bebidas alcoólicas. Alguns afirmam beber em menores proporções que antes. Quase 60% dos mil entrevistados, no entanto, não mudou a atitude. Ao mesmo tempo, 81% disseram jamais terem sido parados em uma blitz - e, dos que revelaram terem dirigido depois de beber pelo menos uma vez no último mês, 80,5% garantiram que obedeceriam à lei se houvesse mais fiscalização.
A constatação feita pela reportagem - e confirmada pela pesquisa do IBPS - coincide com a sequência de acidentes trágicos noticiada nos últimos três meses.
Fonte: Revista Época São Paulo, 1 de outubro de 2011

Categoria: Geral


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