O excepcional desempenho da indústria está alicerçado na estabilidade econômica, na queda de juros, na distribuição da renda, no aumento do poder de compra da nova classe média e no interesse dos investidores por um segmento que não registrou nenhum momento de retração neste século. Resultado: nunca se construiu tanto e em tantas cidades. "Companhias que faziam um lançamento por ano, agora fazem dois ou três. A mudança de ritmo foi imposta pela necessidade de aproveitar as oportunidades e pela maior disponibilidade de recursos", explica Luiz Alberto Marinho, sócio da GS&BW, unidade especializada em shoppings da GS&MD Gouvêa de Souza.
No entanto, sinais de alerta começaram a aparecer em 2011, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,7%. Eles ficaram mais fortes com a expansão de apenas 0,9% em 2012. No ano passado, o faturamento do setor cresceu 10,65%, índice expressivo, mas o menor dos últimos seis anos. As luzes ficaram vermelhas com a variação de 0,6% do PIB no primeiro trimestre. As vendas dos shoppings sentiram o baque: de janeiro a junho de 2013 desaceleraram em relação ao mesmo período de anos anteriores, subindo 8%, enquanto em 2012 a alta foi de 10,8%, e em 2011, de 11,7%.
Diante dos resultados, a Associação Brasileira da Indústria de Shopping Centers (Abrasce) refez a projeção de crescimento para 2013, que passou de 12% para 10%. "A indústria está inserida em um contexto macroeconômico difícil e uma expansão de 10% é muito boa. Além disso, nada indica um movimento de queda", explica Adriana Colloca, superintendente da Abrasce. "O mês de outubro sinaliza um crescimento anual por volta 10% ou um pouco mais, uma boa notícia", diz José Isaac Peres, presidente da Multiplan, a segunda maior empresa do setor. Enquanto isso, a expectativa para o PIB não ultrapassa os 2,5%.
Em uma indústria que trabalha com perspectivas de longo prazo, a lista de inaugurações da Abrasce relaciona 41 malls para 2014. Mesmo assim, a palavra cautela é ouvida com maior frequência.
A cautela não é motivada apenas pelo quadro econômico. A indústria começa a encarar problemas resultantes do crescimento desenfreado dos últimos anos. Um deles é a concorrência predatória existente em algumas cidades. Maringá (PR), com população estimada de 386 mil habitantes, tem cinco shoppings em operação; Vila Velha (ES), com 458 mil, tem três, e Sorocaba, com 629 mil habitantes, tem um mall e três em desenvolvimento.
Empresários, consultores e executivos do setor questionam a qualidade dos estudos prévios que embasam a decisão de construir alguns shoppings, feitos por companhias sem tradição no ramo, alicerçadas em recursos vindos de fundos de investimentos.
"Se você não tem know-how, as chances de dar certo são menores", comenta Peres, da Multiplan. "Tem até banco investindo porque acha que o setor é a galinha dos ovos de ouro e não é. Mas o mercado vai se depurar naturalmente e se consolidar." A boa notícia: os problemas não são estruturais e a possibilidade de uma retração é afastada porque ainda existe muito espaço para a indústria crescer em bases sólidas.
Para o consumidor, o atraso das obras e grande número de lojas ainda de portas fechadas na inauguração são os problemas mais visíveis. O Valor apurou que muitos empreendimentos abriram as portas neste ano com menos de 50% de ocupação porque os varejistas não têm condições financeiras de acompanhar o ritmo frenético de expansão do setor, principalmente em cidades onde já existem vários malls. "Até as franquias, as grandes parceiras dos shoppings, ficam receosas de investir em locais em que a presença da marca já é grande", comenta Luis Augusto Ildefonso, diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop).
Fonte: Valor Econômico (SP), 28 de novembro de 2013