Parking News

Por Jorge Hori *

Vem tornando-se uma crença generalizada e equivocada que vagas de estacionamento geram tráfego de automóveis. Levantada por alguns transporteiros e aceita por autoridades públicas, diante de uma realidade visível que é o aumento dos carros em circulação e da demanda por vagas de estacionamento, a teoria de que reduzindo a disponibilidade de vagas as pessoas deixarão de usar o carro e passarão a usar o transporte coletivo ganha força e espaço no imaginário coletivo.
Que a dificuldade de conseguir uma vaga para estacionar o seu automóvel leva os usuários deste a mudar os comportamentos é plausível e deve ocorrer na prática. Só que essa mudança nem sempre ocorre conforme desejado pelos planejadores e autoridades que acreditam no mantra da seita dos anticarros.
Reportagem de capa da Veja São Paulo desta semana (leia nesta edição do Parking News em Fique por Dentro), a partir de pesquisa realizada pela consultora EY (ex-Ernst Young), confirma alguns dos comportamentos já identificados aqui: as pessoas chegam mais cedo próximo aos locais de trabalho para conseguir uma vaga gratuita, onde possam deixar o carro o dia todo, durante o seu expediente. Um levantamento na área da Berrini, uma das áreas com maior déficit de vagas, mostrou que por volta das 6h30 as ruas com estacionamento permitido já estavam tomadas e, à medida que corriam as horas, as vagas iam sendo ocupadas, de tal forma que por volta das 7h30 só se encontravam vagas próximas à Av. Santo Amaro, a mais de um quilometro de distância. A novidade da reportagem é de mães que chegam mais de uma hora antes para pegar o filho na escola, para estarem mais próximas da porta de saída e evitar as filas duplas, ora sujeitas a forte fiscalização, ou a longas filas que podem levar até uma hora para sair. Algumas das mães ou pais preferem gastar uma hora antes do que depois.
O processo de busca de uma vaga gratuita mais cedo vem ocorrendo, também, no entorno das estações de metrô, podendo ser constatado já às 7h00 da manhã, quando todas as vagas já estão tomadas. Só resta ir mais distante, mesmo assim com o risco de não encontrar vaga, rodando enquanto isso, aumentando desnecessariamente o fluxo de veículos.
A matéria da Veja desmente - ainda que parcialmente - a crença de que com a carência de vagas os motoristas deixariam o carro em casa e passariam para o transporte coletivo. Enquanto eles tiverem a esperança de encontrar uma vaga, preferencialmente gratuita, eles adotarão mecanismos para continuar indo de carro para o trabalho. No caso da Berrini, a CET, na gestão anterior, reduziu as vagas nas vias mais próximas e transferiu para as mais distantes as vias com vagas que continuaram sendo demandadas.
O que se pode contestar é que, se forem eliminadas todas as vagas gratuitas nas vias públicas no entorno do polo de destino (no caso a Av. Berrini), os motoristas deixariam de ir de carro, porque não teriam possibilidade de obter vagas. Com exceção daqueles com renda e dispostos a pagar pelos altos preços das vagas em estacionamentos privados.
A questão é que, ampliando a área de restrição, entra em conflito com outros destinos, principalmente lojas comerciais, bares e restaurantes que precisam de vagas nas suas proximidades para os seus clientes. Sem vagas eles perdem seu movimento e serão levados a fechar e mudar para outros locais. A área perderá movimento e entrará em degradação.
O efeito sociologicamente perverso da restrição de vagas resultará num efeito efetivamente perverso, no sentido comum.
Não é viável uma restrição global ou mesmo ampla de vagas para estacionamento em vias públicas, com o objetivo de inibir o uso do carro para ir ao trabalho.
A melhor alternativa, além de induzir à residência próxima ao trabalho, é o estacionamento a preços módicos juntos às estações de metrô, ou de linhas de ônibus executivos.
Se o objetivo é provocar a transferência do carro para o transporte coletivo, é preciso levar em conta as questões culturais que interferem nas escolhas. O usuário do carro prima pelo conforto, não se dispondo a utilizar veículos lotados.


* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.

Categoria: Fique por Dentro


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