Com um olhar desatento pelas ruas é fácil identificar em meio ao caótico trânsito paulistano o pessoal da Companhia de engenharia de Tráfego de são Paulo (CET), seja organizando o trânsito, autuando infratores ou ainda fornecendo informações para quem circula pelo entorno.
Mas, com um pouco mais de atenção, é possível perceber a presença de mulheres nessa função que apesar de serem minoria, encaram com muita disposição o desafio diário de fazer fluir a maior frota automotiva do País, que em dias da semana somam 3,5 milhões de carros. "Eu gosto de sentir que sou responsável por cuidar de tudo isso aqui", diz a técnica de Operação, Orientação e Fiscalização do trânsito da CET, Simone Araújo, olhando para a intensa movimentação de carros que circula pela Avenida Paulista no início da tarde.
Ela é uma das 256 mulheres que estão nessa função, de um total de 2 mil "marronzinhos" - apelido dado a eles em função do uniforme com tal tonalidade. Há três anos, Simone teve que aprender a dirigir caminhão para ter habilitação da categoria "C" e assim, assumir a função de fiscalização - ela trabalhava no setor de Zona Azul. "Apesar do trabalho ser puxado, quando quis estar nessa função sabia que ia precisar deitar no chão para colocar corrente, ficar sob o sol, chuva, carregar cones", justifica a "marronzinha", que tem cabelo pela cintura e não sai para trabalhar sem batom, lápis nos olhos e protetor solar.
Alessandra Pires é chefe da fiscalização de uma das unidades de apoio da CET. Ela coordena uma equipe de 30 pessoas - apenas dez são mulheres. "Eu sou muito firme, o pessoal costuma me chamar de sargenta, mas tento conhecer melhor cada um e também compreender o lado humano do pessoal", diz ela que está há dois anos no cargo que antes era ocupado por homem.
A empolgação das "marronzinhas" com o trabalho é percebida pelo brilho nos olhos quando elas falam do dia-a-dia da função, que envolve atendimento de ocorrência, desvio de caminhos e até cantadas. Simoni ri ao falar do assunto e até elege a melhor que já ouviu: "Ah, como eu queria ser emplacado para você me multar."
Tanto tempo que passa no trânsito as fazem ter em mente um retrato da paisagem automotiva de São Paulo. Elas são unânimes em afirmar que a cor dos veículos que predominam pelas ruas é cinza ou prata. Que carro velho quando quebra é porque ferveu e é "fácil" de resolver, enquanto os novos "travam" e para remover só com guincho. E lembram que isso acontece principalmente na região dos Jardins onde circulam uns "carrões", concluem.
Fonte: Jornal da Tarde (São Paulo), 19 de maio de 2007